

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Uma nova seção mensal – trazendo disparates ditos sobre áudio e audiofilia!
patacoada (substantivo feminino)
dito ou ação ilógica; disparate, tolice.
gracejo desabusado.
Em cartaz, este mês, os seguintes ‘gracejos desabusados’:
A LIGA DOS DEFENSORES DO TESTE DE LABORATÓRIO CAI EM CIMA DE QUALQUER ARTIGO DE ÁUDIO

A ideia de muitos leitores de fóruns e de redes sociais sobre áudio, é ler qualquer publicação que diga algo técnico sobre o que quer que seja, e já mandar um comentário dizendo que, para essa pessoa, aquele artigo é inútil e sem validade porque não foram feitos testes de laboratório, porque não tem ‘medições’.
O dia que alguém vier com medições e testes de laboratório que expliquem timbre, profundidade e camadas de palco, texturas, corpo harmônico, entre outros, eu vou ser o primeiro a festejar – porque aí sim o mercado será plenamente revolucionado. Enquanto isso…
Esses ‘tarados por medições’ devem ficar loucos quando caipira olha para o céu e diz “vai chover”, ele responde “onde estão as medições científicas comprovando isso?” – e toma uma bela chuva na cabeça. O mesmo povo que não vai a um restaurante novo enquanto algum cientista desocupado não for antes lá com equipamentos de laboratório, dizer se a comida ‘é boa’ ou não.
Me deixam irritados audiófilos que negam-se a aprender a ‘ouvir’, e os que acham que os fatos empíricos têm que se adaptar às suas limitações auto-impostas e arrogantes.
Já vou avisando que a única ferramenta de medição de laboratório que eu jamais uso são os meus ouvidos. Tudo que eu escrevo na revista, tudo que eu aconselho em consultorias e em respostas a dúvidas, é 100% baseado em experiência, em audições críticas – com ouvidos continuamente treinados – e em ter formado minha opinião.
ODIAR PREÇOS ALTOS MAS NÃO COMPREENDER QUALIDADE SONORA

Frequentemente aparece algum artigo de ‘engenheiro’ chamando reviewers e afins de vendidos, mentirosos ou mesmo iludidos – isso quando não diz que contesta o caráter – porque apresentam cabos de alto preço dizendo que têm alta performance.
Olha, eu mesmo preferiria que equipamentos e acessórios para áudio fossem mais baratos – pois tem um monte deles que eu adoraria ter, e acho que nunca na minha vida poderei… rs!
Mas, o que isso tem a ver com ter ou não alta performance?!?
A questão é que muitos desses virulentos acima, realmente não têm a capacidade de percepção devidamente treinada – e muitas vezes nem o nível de equipamento ou condições necessárias – para fazer essa distinção. Então, na opinião deles, quem tem essas condições todas e faz essas distinções é desonesto.
Bom, eu faço essas distinções, e não sou desonesto. E a estupidez e virulência dessas pessoas me ofende bem mais do que alguém discordando da minha opinião como se estivéssemos brigando no parquinho na hora do recreio do Jardim de Infância.
Lembrei-me da famosa história do engenheiro que disse para o Fernando Andrette que se tivesse diferença sonora entre cabos digitais, ele comeria o diploma. Ele ouviu, percebeu, aprendeu, mudou de opinião e de atitude em relação à cabos de áudio – e não teve que comer o diploma, porque o Fernando é uma pessoa muito mais elegante que eu, que já andaria com o vidro de maionese no bolso do casaco, para ajudar…
Veja bem: é um Engenheiro que descobriu que o mundo é multidisciplinar e não se resume ao que ele aprendeu na faculdade, e mudou sua opinião por vontade própria, na prática.
Os tais engenheiros virulentos precisam aprender muito com esse engenheiro do parágrafo acima – e também aprender muito sobre áudio de alta qualidade.
DEFESA FERRENHA E CONSTANTE DO SISTEMA DE ‘ROOM CORRECTION’

Mesmo depois de dezenas de engenheiros projetistas de sistemas e equipamentos de audiofilia dizerem que sistemas de ‘Room Correction’ estragam a música, estragam o som, a defesa ferrenha – e a consequente continuidade da discussão sobre esse método – continuam.
Me parece mais uma prova de que muitos audiófilos defendem seus pontos de vista como imutáveis e definitivos, com unhas e dentes – mas não defendem nunca a possibilidade de estarem errados e de aprenderem algo.
Para mim, a resposta é simples: é um sistema que ajuda muito uma sala e equipamento com qualidade bem baixa e em estado crítico de regulagem e de acústica. E nada disso é o caso de um sistema audiófilo minimamente decente.
E por quê?
Porque a Correção de Sala sempre traz trocas. Ou seja, melhora uma coisa e piora outra – traz perdas inegáveis na qualidade e verossimilhança dos graves, porque a única maneira de lidar com sua falta ou excesso é alterando seu conteúdo, pois não existem milagres. O som geral também perde vida e começa a ter problemas causados propositalmente no domínio do tempo e fase, por tentar ‘entortar’ a música para ser uma peça de quebra-cabeças que se encaixe com o contorno ‘torto’ de outra peça, que é a sala, o ambiente.
A verdade é que não está ‘corrigindo a sala’, está é alterando a música, o som, para se adaptar à sala. E isso eu não considero ser alta fidelidade. Em um home-theater pode até ser útil, mas para música com alta qualidade sonora, não é.
Fica parecendo que os defensores desse processamento ou têm salas e sistemas muito, muito ruins, ou não têm boas referências de música para perceberem o que estão perdendo, o que está sendo alterado.
“Se você quiser três opiniões distintas, pergunte para dois audiófilos!” – frase jocosa da década.
E que novembro nos traga ainda mais Patacoadas Divertidas!