Vinil do Mês: SIBELIUS – SYMPHONY NO.2 – GOTHENBURG ORCHESTRA – NEEME JÄRVI (BIS, 1984)

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Christian Pruks
christian@avmag.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação

Gênero: Música Clássica Sinfônica

Formatos Interessantes: Vinil Importado

O advento dos serviços de streaming de música me permite executar uma das minhas diversões, que é ouvir dezenas de gravações de uma mesma obra que eu goste, até achar a que eu considero melhor.

E aí que vem a pergunta que um amigo (e leitor) me fez outro dia: “o que faz ser a melhor versão?”. E isso me faz voltar àquilo que eu já falei algumas vezes: não gosto de, e nem costumo fazer, crítica musical. Por quê? Porque críticos costumam definir que a melhor gravação de uma tal sinfonia, por exemplo, é a melhor porque “em tal compasso no segundo movimento o regente optou por fazer os metais exatamente como especificado na revisão de 1834 por parte do musicólogo Fulanus de Tals que foi amigo pessoal do compositor”.

Selo do Disco

Assim como aqui na revista o básico necessário é o Equilíbrio Tonal em todos equipamentos que analisamos e recomendamos, eu também sigo alguns preceitos para escolher as gravações que considero as melhores – como as Seis Suítes para Cello Solo, de Bach, que eu considero ser a melhor de todas a segunda gravação do Yo-yo Ma, lançada em 1997 pela Sony Music, com o CD intitulado Inspired By Bach, simplesmente porque há um equilíbrio entre maturidade emocional e musical, com técnica apurada ao longo de décadas, onde a obra parece fazer parte do indivíduo, do ser dele. Tem outras gravações dessa obra que são boas? Claro! Mas está aí o porque eu considero essa como a suprema, como disco de cabeceira.

As melhores gravações para mim trazem a melhor fluência da orquestra nas mãos daquele regente específico, com um equilíbrio entre técnica e emoção, estruturados de acordo com aquilo que a obra é – por exemplo, não se faz execução sem emoção da Quinta Sinfonia de Beethoven, obra emblemática do início do período cultural altamente emocional do Romantismo, no século 19, fazendo-a soar como se fosse barroca. Acho isso uma ofensa a quem gosta do Romantismo pelo que ele é, e uma ofensa àquilo que o Beethoven fazia de melhor como compositor. Isso literalmente diminui a obra!

Contracapa

Enfim, voltemos ao assunto:

Diferente de outros gêneros musicais mais populares, onde toda a personalidade do músico é parte integral de como a música soa, é parte integral de sua composição e arranjo, a música clássica é presa em seu formato e arranjo à orquestra como foi definida, e àquilo que o compositor especificou na partitura e anotações. E, ainda assim, existe um amplo campo para interpretação, onde pesos, dinâmicas, ataque, andamento, fluência e muitas outras coisas são fruto de escolhas do regente e da orquestras durante ensaios – não é ‘mágica’ de um cara só lá na frente com a batuta na mão fazendo caretas…

A Segunda Sinfonia do finlandês Jean Sibelius (‘finalmente o cara vai entrar no assunto!’), composta entre 1901 e 1902, é provavelmente a mais gravada de suas sinfonias, e uma das preferidas do público, pois é muito bonita e marcante, unindo desde essa beleza mais lírica à grande arroubos emocionais típicos do período do Romantismo – apesar de Sibelius ser do final desse período, muitas vezes definido com sendo do Romantismo Tardio, e também com um pé no Modernismo da primeira metade do século 20.

Neeme Järvi

A questão é que Sibelius – maior compositor de seu país – foi bastante voltado ao nacionalismo musical, sendo que as lendas e folclore finlandês foram temas de inúmeras obras suas. E isso é legal porque é uma música ao mesmo tempo complexa orquestralmente, e também é muito bonita, melódica, emotiva, palatável e interessante.

A Segunda Sinfonia é infelizmente lembrada por ter sido tocada em muitas gravações com displicência, desinteresse e um aparente ‘desconhecimento de causa’ por parte do regente e da orquestra – mesmo por regentes de renome.

Eu tenho quatro preferidas gravações dessa sinfonia: com o canadense Yannick Nézet-Séguin regendo a Orchestre Métropolitaine de Montréal, com o finlandês Paavo Berglund com a Orquestra de Helsinki, com o húngaro George Szell com a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã, e com o estoniano Neeme Järvi com a Orquestra de Gotemburgo.
Szell é mais completo e competente, porém germânico pacas. A do Nézet-Séguin é a mais moderna e recente gravação. E os outros dois são especiais por serem, além de excelentes regentes escandinavos e bálticos – ou seja, culturalmente com maior conhecimento de causa – tem uma orquestra finlandesa e outra sueca.

Então, o disco aqui indicado, além de ter excelente qualidade de gravação, é uma excelente execução bem informada.
Nascido em 1937, Neeme Järvi continua vivo e ligeiramente ativo com seus 88 anos de idade, como Diretor Artístico Honorário da Orquestra Sinfônica Nacional da Estônia – onde, aliás, um de seus dois filhos regentes, Paavo Järvi, é Consultor Artístico – e é um célebre regente que já gravou com inúmeras orquestras mundialmente.

O filho caçula, Kristjan Järvi (meu xará), tive o prazer de assistir reger a OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – em uma excelente execução da Sagração da Primavera, de Stravinsky, um ponto alto da minha ‘carreira’ como frequentador da Sala São Paulo.

Jean Sibelius nasceu Johan Julius Christian Sibelius, com seu performático cabelo (vide foto) em 1865, em Hämeenlinna, na Finlândia, falecendo em 1957 – e deixando um legado de mais de 500 composições, incluído sinfonias, concertos, óperas, oratórios, cantatas, música de câmara, e todas outras formas de música erudita que você pode imaginar.

A série de discos de vinil prensada na década de 80, da qual faz parte este disco, intitula-se The Complete Orchestral Music – e eu não se gravaram toda sua música orquestral, mas do ciclo de sinfonias e muitos dos principais poemas sinfônicos, como Finlandia e Tapiola, eu tenho certeza.

CURIOSIDADES

Sibelius dizia de sua Segunda Sinfonia era “uma confissão da alma”, a qual ele compôs passando uma temporada no vilarejo de Rapallo, no norte da Itália – um país que serviu de inspiração para vários compositores, como Tchaikovsky e Richard Strauss.

A sinfonia foi publicamente aclamada como ‘Sinfonia da Independência’, quando um sentimento popular ligou-a à luta da Finlândia para se tornar independente da Suécia – o que, efetivamente, aconteceu em 1917.

Um crítico declarou que a Segunda Sinfonia era “Vulgar, auto-indulgente e provinciana além de qualquer descrição”. E, como esse crítico era também músico, e nada que chegasse no calibre de Sibelius, tenho certeza que ele ficou o resto da vida sem poder encostar o cotovelo na mesa, de tanta dor – o que pode tê-lo ensinado boas maneiras, nem que seja só à mesa…

Jean Sibelius

Esta gravação pelo selo sueco BIS, é uma gravação audiófila que, além da excelente qualidade de som, usa de dois expedientes especiais em seu processo: o DMM e ser ‘Digital Recording’ (sim, quando bem feitas, as gravações digitais são benéficas ao registro de música clássica).

O sistema de masterização física para discos de vinil, DMM – Direct Metal Mastering – é uma técnica desenvolvida nos anos 80 pelas empresas Telefunken, Decca e Neumann. Normalmente o primeiro estágio para a fabricação da master para um disco de vinil, é o corte do acetato a partir da fita master, que depois é transferido para o metal e este, por sua vez, gera as estampas para a prensagem dos LPs.

Com o DMM, o metal é cortado direto a partir da master (analógica ou digital), pulando o estágio do corte do acetato, em um processo mais limpo e potencialmente com melhor qualidade sonora.

A gravação digital como master para um disco de vinil – assunto que deixa fãs de vinil com as orelhas em pé – na verdade tornou-se bastante comum a partir do final da década de 70, e com muitos discos resultando em excelente qualidade sonora! O processo nesta gravação da Segunda Sinfonia de Sibelius, foi feito com microfones de alta qualidade e profundo critérios, com o áudio (a master) armazenado pelo gravador digital PCM-F1 da Sony, em 16-bit/44kHz, e que usava como armazenamento fita de vídeo magnética Betamax (usando a faixa de vídeo por ter grande capacidade de dados).

OUÇA SIBELIUS – GOTHENBURG SYMPHONY ORCHESTRA – NEEME JARVI, NO TIDAL.

Audiófilos fãs de vinil, não arranquem seus cabelos! Descubram que existem vinis fenomenais originados de fitas master digitais!

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música clássica sinfônica, principalmente a do período do Romantismo e do Modernismo da primeira metade do século 20, assim como para todos os fãs de Sibelius e do quão bonita e interessante pode ser a música clássica com temas nacionalistas folclóricos.

Prensagens boas? O vinil desse disco só existe na prensagem original da BIS sueca, de 1984 (que é fabricada na Alemanha). Não existem outras prensagens em vinil.

Um outubro muito musical a todos!

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