

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Uma nova seção mensal – trazendo disparates ditos sobre áudio e audiofilia!
patacoada (substantivo feminino)
dito ou ação ilógica; disparate, tolice.
gracejo desabusado.
Em cartaz, este mês, os seguintes ‘gracejos desabusados’:
RECLAMAR QUE UM FONE DE REFERÊNCIA SOA ERRADO QUANDO NÃO SOA
Audiófilos e afins, na Internet, definiram que um determinado modelo de fone de ouvido, considerado de Referência, tem um som que puxa para os agudos e graves – como uma curva de equalizador tipo ‘sorriso’ – e seus médios são recuados.
Eu conheço bem esse específico fone de ouvido e, com boas gravações, não tem nada disso que falaram. Com gravações corretas, de instrumentos acústicos reais (ou seja, espelhando a Realidade que é a Referência) com pouco ou nenhum processamento, o fone soa com um Equilíbrio Tonal ótimo, sem nada destoando. E sem nada de médios ‘para trás’, recuados.

Esse fone, aliás, é utilizado no monitoramento em vários estúdios os quais fazem gravações reconhecidas como excelentes.
Quando eu li essa bobagem, não fiquei bestificado, nem nada do gênero. Fiquei é imaginando o que teria levado as pessoas a chegarem à essa conclusão estúpida.
E os fatores são – ou podem ser – múltiplos. Pois existem algumas coisas que são feitas de maneira errada por muitos.
Existe essa mania de equalizar fones de ouvido, que feita do jeito certo deveria funcionar como uma ‘correção’, aplicada de maneira leve, para um ajuste fino do seu conjunto fone de ouvido + amplificador. O problema é que equalização de fones é, geralmente, usada de maneira errada, privilegiando o gosto pessoal – em vez do conhecimento do que pode estar precisando de uma correção, de acordo com referência e afins. E isso é só para a parte básica do Equilíbrio Tonal, que é a resposta de frequência.
E isso pode levar ao caos da resposta de frequência, e a avaliar ou perceber um fone de ouvido de maneira errada.
Outro fator que eu consigo imaginar, para essa percepção errada acontecer, é a quantidade que existe de música mal gravada, mas mixada e mal produzida, onde o som é todo muito frontal, a pessoa se acostuma a isso, e quando aparece o ‘não torto’, há um choque de valores, onde o ‘bom’ passa a ser visto como ‘ruim’ – uma inversão.
Já vi isso bem exemplificado, várias vezes, com audiófilos dizendo em vez de uma apresentação real de jazz, por exemplo, preferem o sistema deles onde “a pianista parece estar tocando sentada no colo dele, no sofá” – melhor nunca ouvir Thelonius Monk nesse sistema…
A verdade é que o sistema desse audiófilo está totalmente ‘torto’, cheio de alterações, perdas e distorções – pois essa ideia errada é pura falta de Referência (como sempre!), e de compreensão de como uma gravação funciona, e de como a música na vida real funciona.
À grosso modo, tudo que está sendo gravado está para trás dos microfones, simplesmente porque estão do lado de lá dos microfones (!), como vocais, pianos, violão, etc. E o que o microfone captou é o que as caixas irão reproduzir – portanto toda a música tem que estar para trás das caixas, se não estão acontecendo distorções e perdas nesse sistema, nesse equipamento. O Thelonious Monk está no seu colo? O sistema está torto!
ESPECIALISTA DECLAROU QUE CAIXAS QUE MEDEM ‘FLAT’ SOAM TODAS IGUAIS
Fenomenal como tem ‘especialista’ na Internet soltando declarações com enorme desconhecimento de causa.
A ideia do sujeito me parece ser de, quando a resposta é mais plana, ou mais equilibrada, o som seria ‘sem graça’ – o que justificaria a existência, e validade, de um monte de caixas bastante tortas que existem no mercado como algo interessante para quem está entediado e quer algo diferente, como uma camisa com três mangas, por exemplo, ou uma gaveta com a tranca por dentro…

Isso, claro, se a pessoa pretende perseguir Qualidade de Som, em vez de Quantidade de Som.
Vejam, a medição da resposta de frequência de uma caixa, NÃO vai lhe dizer o Corpo Harmônico, nem Texturas, nem Dinâmica, nem Transientes, nem profundidade, largura e separação de instrumentos no Palco. Mas muitas pessoas continuam achando que medições irão lhes dizer tudo.
ESPECIALISTAS DIZEM QUE CAIXAS DE 4 OHMS FAZEM MAL AO AMPLIFICADOR
Eu ouço essa ideia a minha vida inteira – e ‘na teoria’ ela importa, mas na prática há um bocado de atenuantes…
Eu já tive muitas caixas de 4 ohms na vida, e ouvi-as em plenitude durante anos, com zero problema. Mesmo ouvindo rock!

A melhor caixa que meu pai teve era uma torre de 3 vias com dois woofers de 10 polegadas, médio de 4 polegadas e um ribbon tweeter, com 90dB de sensibilidade, em uma sala de bom tamanho, sempre em grandes volumes realistas para música clássica, por horas a fio.
E era uma caixa de 4 ohms, que tocou mais de uma década com umas oito amplificações diferentes, desde pré e power parrudos, passando por integrado classe A, até receivers de 30W de potência. Absolutamente nenhum problema, nenhum aparelho esquentando demais, nenhum queimando, nenhum nem entrando em proteção ou queimando fusível. Nada!
E isso foi na década de 80!
Existem alguns fatores importantes a serem levados em conta, como a existência de algumas amplificações mais simples, e alguns receivers de home-theater, que declaradamente não aceitam caixas de 4 ohms – mas, mesmo assim, em uma sala pequena ou quarto, nos volumes que eu ouço, eu usaria caixas de 4 ohms nesses sem problemas (monitorando o comportamento do amplificador, claro). Mas, até aí, já vi gente queimar falantes de caixas acústicas só ouvindo música em altos volumes – falantes que eu não consegui queimar nem dando curto-circuito por acidente!
E, claro, se você usa seu sistema em volumes extremamente altos, como fazer festinha ou tentar deslocar o fígado do seu vizinho, certamente o uso de caixas de 6 ou 8 ohms deixarão sua amplificação trabalhando mais tranquila.
A questão, em algumas situações e volumes mais críticos, é que as caixas ostensivamente de 4 ohms podem baixar até a 2 ohms em determinadas frequências – e aí a exigência pode ser grande mesmo para vários amplificadores.
Por hoje é só, pessoal.
“Se você quiser três opiniões distintas, pergunte para dois audiófilos!” – frase jocosa da década.
E que dezembro nos traga ainda mais Patacoadas Divertidas!