

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Uma nova seção mensal – trazendo disparates ditos sobre áudio e audiofilia!
patacoada (substantivo feminino)
dito ou ação ilógica; disparate, tolice.
gracejo desabusado.
Em cartaz, este mês, os seguintes ‘gracejos desabusados’:
USO DE TELAS NAS CAIXAS POR MOTIVO DESNECESSÁRIO
Obviamente quem tem crianças pequenas, e animais como cachorros e gatos, precisa ter muito cuidado com seus sistemas – especialmente com caixas, cujos falantes são bastante frágeis ao toque.
Então, bichos que arranham gabinetes, e crianças que apertam o domo do tweeter para dentro são constantes perigos. E, assim, muita gente usa pelo menos as telas que vieram com as caixas acústicas, para uma proteção mais psicológica do que não.
O problema? Telas alteram o som, alteram os médio-agudos e agudos, e alteram a dispersão dos falantes. Isso é uma regra? Eu considero que sim, porque só sei de duas caixas que tocam melhor com as telas, seja lá porque motivo.

A questão é que esse é um hobby onde é importante tirar o máximo que se puder tirar, pois cada detalhe é um ganho de Qualidade Sonora, ou um gargalo na mesma, que ficou para trás… Eu, portanto, não uso tela e nunca usei tela em nenhuma das minhas caixas. E antes de dizer simplesmente que os audiófilos acima, que têm filhos pequenos e animais de estimação, podem muito bem tirar as telas na hora de ouvir – e colocá-las de volta quando desligarem seus sistemas – a questão aqui está em outro lugar.
Outro dia, descobri pessoas usando permanentemente as telas em suas caixas acústicas simplesmente porque a ‘luz’ seria o maior culpado do envelhecimento e ressecamento das bordas dos alto-falantes…
Acontece que esse processo de ressecamento demora anos e anos para acontecer, e é muito pior em partes do mundo onde o tempo é quente e seco, do que se expor as caixas à luz do sol. E eu duvido que minhas lâmpadas de LED demorem menos que uns 200 anos para ressecar a borda dos falantes! rs!
Eu nunca uso telas, mas eu não exponho minhas caixas ao sol – eu tenho cortinas que são, aliás, partes integrais do ajuste de acústica da minha sala. Além disso, fiquei pensando em quantas caixas hoje em dia usam em seus falantes bordas de espuma – que são as mais sensíveis ao tempo – em vez de bordas de borracha (mais comuns e muito duráveis) ou mesmo borda ‘seca’ ou borda de tecido.
Esse audiófilo paranóico ‘das bordas’ subutiliza seu sistema de som em nome de um problema que provavelmente não tem – ou que poderia ser evitado ou gerenciado de maneiras bem mais produtivas.
Isso tudo me lembrou também, de anos atrás, de um sujeito que não permitia que os woofers das caixas dele mexessem, pois ele dizia que estava fazendo mal ao woofer, maltratando, gastando. E, assim, ele só ouvia em baixo volume, ou com pouco grave…
Depois eu que sou louco…
POUCO DINHEIRO EM ACÚSTICA SERIA MELHOR QUE 10 VEZES MAIS GASTO EM CABOS
Dito por um audiófilo como se fosse uma enorme ‘sabedoria’ que traria acesso ao nirvana sonoro.
Primeiro, volto a dizer: TUDO é importante! Não tem algo que possa ser deixado de lado e, ainda assim, obter-se resultados realmente bons com um sistema de áudio.
A maioria das pessoas não pode ter uma acústica dedicada – mas precisa ajustar seus ambientes para obter o melhor deles, seja com tapetes, cortinas, móveis e até um ou outro dispositivo acústico que possa ser usado em um desses ambientes caseiros de uso comum.
A mesma coisa que aplica a posicionamento de caixa, um rack ou prateleira suficientemente sólida para seus equipamentos e – claro! – cabos minimamente bons!

A pessoa que propalou essa ideia, é um dos que acham que cabos não importam. E é, também, um daqueles audiófilos que eu chamo de ‘monoteístas’, que acreditam que apenas um fator só em seus sistemas é o que determina sua qualidade.
Hoje, para sistemas de entrada, existem cabos fenomenais por preços acessíveis de tal maneira que valem cada centavo de seu investimento – então, não vale comprar qualquer cabo barato que aparecer pela frente só porque parece suficientemente bem construído.
Da mesma maneira, como comprar cabos chineses sem marca pode ser extremamente lotérico – e eu já fiz isso, e também já acompanhei o processo de amigos que gastaram algumas centenas de dólares comprando cabos de 50 dólares “para ir experimentando” e não chegar a perceber nenhum deles como realmente bom. Hoje meu cabo de caixa, por exemplo, é de uma marca brasileira (VR Cables), custou o equivalente a 350 dólares, e dá um resultado de alto nível de Qualidade Sonora, sem rebarbas – e isso foi um investimento realmente bom.
Cabos de qualidade são peças importantes em seus sistemas.
O PRIMEIRO WATT É O MAIS IMPORTANTE
Essa ‘invenção’ é uma bobagem sem tamanho para mim – não faz sentido algum, e parece marketing tentando se passar algum tipo de ‘sabedoria’, uma que não cola no mundo real.
É uma bobagem bastante difundida que, inclusive, foi dada como resposta para um audiófilo que perguntou se, a caixa dele tendo sensibilidade de 89dB (medida teoricamente em 1W a 1 metro de distância), precisaria apenas de um amplificador de 1W de potência para que ele, sentado a 1 metro de distância, ouvisse uma pressão sonora de 89dB… rs!
Acontece que ninguém senta com os ouvidos a 1 metro de distância do tweeter, e o tal amplificador estaria saturando e distorcendo um bocado quando daria o tal 1W – seu máximo – e isso apenas quando a música ouvida estivesse em sua parte mais alta e em todas as frequência. Fora, também, que dificilmente essa sensibilidade de 89dB da caixa seria em todo o espectro de frequências.
Quer ver como, além disso, existem outros aspectos a serem levados em consideração além do tal número bonito dos dB de sensibilidade? Uns anos atrás, peguei para ouvir um par de caixas torre modernas com 3 ou 4 woofers em cada, com algo como 97 ou 98dB de sensibilidade (algo que, na teoria, quase daria para ser ‘empurrada’ por um radinho de pilha). E a caixa tocou muito mal com um amplificador bom e consagrado valvulado de 12W, com graves pífios, som desequilibrado e bastante feio, magro, sem pegada e sem energia. Até que liguei as caixas com um integrado transistorizado de 150W, e a pegada apareceu, o controle de graves passou a ser excelente, com muito melhor equilíbrio tonal e corpo harmônico.

O tamanho das caixas e quantidade e tamanho dos mid-woofers necessitava de alta corrente para fazer tudo isso de área de cone ser movida. Além disso, não adianta a caixa ter alta sensibilidade e precisar, ao mesmo tempo, de alta potência em seu divisor e nas bobinas dos falantes. Então, eu simplesmente não acredito que seja melhor usar caixas de alta sensibilidade com amplificadores de poucos watts.
Algo parecido me aconteceu com um par de caixas vintage com mais de 100dB de sensibilidade, mas com um woofer de 15 polegadas de cone de papel bem grosso, em cada uma delas! Imagine ter que mover esses cones enormes e pesados! Um amplificador de 15W fazia elas tocarem bem alto, mas a hora que pus um com mais de 100W, e os cones começaram a se mover, a presença, tamanho e autoridade dos graves não tinha a menor comparação. E aí o equilíbrio tonal apareceu, e com ele a musicalidade (ou seja: ‘todos os aspectos inerentes à música’, e não apenas o ‘médio docinho’).
Outra historinha muito pertinente a este caso, que ajuda a compreender mais um pouco essa questão de potência, é quando eu estava ouvindo um sistema em uma sala de tamanho normal – anos atrás – com um power (grande e de alta potência), com um par de caixas de 92dB. O power tinha um medidor de potência ‘digital’ (ou seja, em números, não em ponteiros), onde ao ouvir um jazz trio, a potência registrava algo que oscilava entre 4 e 8W por canal. Quando chegou no solo do baterista, e ele bateu forte na caixa da bateria, o marcador deu 40W! Compreendem essa diferença de potência para se poder expressar a variação dinâmica e os transientes de um simples jazz trio, corretamente? Essa folga de potência, meu amigo, é necessária!
Quer ter uma boa relação de potência com as caixas modernas dos usuais 88 a 92dB de sensibilidade? Use amplificação de 40 ou 50W por canal para cima se for em uma sala ou quarto de tamanho normal brasileiro (tipo 3×4 metros ou mesmo 4×5 metros). E, em uma sala maior que isso, grande, um amplificador de 100W por canal, pelo menos.
O resto é só roteiro de filme de fantasia e teorias do mundo audiófilo que não funcionam no mundo real.
“Se você quiser três opiniões distintas, pergunte para dois audiófilos!” – frase jocosa da década.
E que outubro nos traga ainda mais Patacoadas Divertidas!