

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Trilha Sonora / Música Clássica
Formatos Interessantes: Vinil Importado
A virada da década de 70 para 80 foi um bocado marcante para mim, em matéria de música e áudio. Primeiro porque meu pai conseguiu montar um sistema audiófilo decente – o melhor para música clássica que eu ouvi na época, e só superado uns 30 anos depois.
Demorou para ser superado, na verdade, porque a audiofilia passou por uma longa era com caixas pequenas de baixa performance em graves, e com agudos que tinham que ser domados o tempo todo, sendo boa parte do problema culpa do CD ainda não ter ‘chegado lá’, e não existir muita opção, já que o analógico era caro e ainda não havia todo esse ‘revival’ com LP, então não era um formato tão difundido nas melhores salas audiófilas.
Outra coisa que ficou muito latente na minha casa, com meu pai sendo um audiófilos fã incondicional de música clássica, foi o acesso a discos importados de alta qualidade, ainda que caros – graças a lojas como Bruno Blois e Brenno Rossi, em São Paulo, que eram a ‘Meca’.
Nesse período, com zero de preconceito, a coleção de discos em casa recebeu inúmeros títulos da Telarc (que eu considero até hoje as melhores gravações de música clássica em questão à Qualidade Sonora), e também vários outros espécimes com a alcunha “Digital Recordings”. E, sendo isso em torno de 1980, me faz rir muito hoje com o repentino purismo dos fãs de vinil contra prensagens originadas de master digital.
Não olhem agora, mas esses mesmos puristas têm numerosos discos gravados dessa forma, em sua coleção, que nem sabem que são ‘digitais’.

Apesar do formato já estar sendo explorado, principalmente, pela Denon no Japão desde o começo da década de 70 com seu selo Denon PCM, e pela americana Telarc desde 1978, a popularização mundial da gravação digital se deu a partir do começo da década de 80 – e por isso que muitos discos da época ostentavam “Digital Recording” na capa: simplesmente porque era novidade!
Prefiro uma gravação digital bem feita, prensada em vinil, do que uma analógica banal e mediana – então o ‘analógico’ não é a salvação por definição.
Uma dessas prensagens muito interessantes, que entraram em casa nessa época, é este disco, de 1980:
O longo título chamativo e ‘quase sensacionalista’ é “A Sound Spectacular! Music From The Galaxies – Ettore Stratta – London Symphony Orchestra”, e ainda trazendo uma sopa de letrinhas que inclui Digital Recording, CBS Masterworks, CBS Mastersound, e Audiophile Pressing!

O disco é uma coletânea de temas de filmes de ficção científica – porém não os originais usados nos filmes, mas sim tocados pela London Symphony Orchestra, sob a regência de Ettore Stratta. Acontece que são mais bem tocados e regidos que a maioria dos originais, e certamente mais bem gravados que a maioria dos originais – pois esse disco é uma espécie de demonstração do que se podia obter à época com a tecnologia de gravação digital, e definitivamente não é uma coletânea de música de elevador para ser vendida nas gôndolas dos supermercados.
Os temas de filmes e séries são bem interessantes, para os fãs do gênero: Superman e Star Wars (John Williams), 007 Contra o Foguete da Morte e Buraco Negro (John Barry), Meteoro (Laurence Rosenthal), Star Trek e Alien (Jerry Goldsmith), Battlestar Galactica (Stu Phillips), entre outros.
Ettore Stratta foi um músico italiano, pianista, cuja carreira foi principalmente como executivo da Columbia Records, produtor musical, diretor musical e regente em numerosos projetos do selo em clássico, jazz e crossovers de vários gêneros, tendo trabalhado com Dave Brubeck, Tony Bennett, Al Jarreau, Dori Caymmi, Paquito D’Rivera, Stephane Grappelli, Lena Horne, Dave Grusin, Toots Thielemans, Dick Hyman, entre outros – e tendo regido com frequência orquestras como a London Symphony, Melbourne Symphony, Adelaide Symphony e St Luke’s Symphony. Ou seja, com calibre fácil para um trabalho mais ‘popular’ como este disco.
A London Symphony Orchestra dispensa apresentações pois, além de ser uma das principais orquestras da Europa, foi usada na gravação de trilhas sonoras de primeiro time, durante décadas.
CURIOSIDADES
Sim, este é um disco ‘Audiófilo’ – que ostenta as palavras Audiophile Pressing na capa (na maioria das edições, pelos menos).
A série CBS Masterworks, da Columbia, é dedicada à música clássica, orquestral e trilhas sonoras.
E a série CBS Mastersound é a que dá a ‘estirpe’ audiófila do disco, pois são gravações com masterização especial – sendo a mais especial a Half-Speed, onde a agulha corta o acetato da master física do vinil em metade da velocidade, para uma precisão muito maior, e que infelizmente não é o caso deste disco que, até onde eu sei, nunca saiu uma versão Half-Speed dele.
Neste disco, a parte especial e audiófila está por conta da novidade da Digital Recording, que trouxe maior limpeza e detalhamento, e também uma Real Dinâmica invejável! Quem já ouviu uma orquestra ao vivo sabe o que é Real Dinâmica, que é a natural diferença, contraste, entre os volumes mais baixos e suaves, e os mais altos e fortes, em uma variação inerente ao som natural daqueles instrumentos.

Aliás, em sistemas com pouca folga, pouca dinâmica e resolução, este disco aqui pode soar muito baixo nas partes suaves, fazendo o ouvinte aumentar demais o volume para dar ênfase à essas partes da música – e acabar com o as partes mais altas ficando altas demais, o que é um erro comum. Aliás é um disco de testes excelente para sacar essas capacidades e limitações em seu sistema.
Vergonhosamente, em fins da década de 80, eu deixei a minha cópia desse disco escorregar para fora da capa, cair de bico no chão e quebrar a ponta. Resultado? Não tenho mais as duas primeiras faixas dos dois lados do disco… rs! Mas ouço até hoje o resto dele – com muito cuidado!
Para quem é esse disco? Para todos os fãs de música clássica, fãs de trilhas sonoras orquestrais, de filmes de ficção científica, e de grande qualidade sonora em discos de vinil.
Prensagens boas & ruins? O Music From The Galaxies teve várias prensagens em vinil, sendo que as mais estranhas (e duvidosas) foram as italianas pelo selo Durium (que acho que existiram por causa do regente ser italiano) que podem ser boas ou não, porque as prensagens italianas não costumam ser das melhores disponíveis, depois a estranha prensagem francesa com o título Space Stéréo (selo Barclay), e as prensagens suecas e britânicas da K-Tel, que me deixam muito na dúvida sobre a procedência da master usada. As que com certeza são boas? CBS americana, Warner Records japonesa, e Polydor alemã. Algumas prensagens não ostentam o logo CBS Mastersound, e não sei dizer o que isso implica em real diminuição da qualidade sonora.
Um novembro muito musical a todos!