Vinil do Mês: ALAN PARSONS PROJECT – TALES OF MYSTERY AND IMAGINATION (CHARISMA / 20TH CENTURY, 1976)

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Christian Pruks
christian@avmag.com.br

Todo mês um LP com boa música & gravação
Gênero: Progressivo / Rock Sinfônico
Formatos Interessantes: Vinil Importado

Na década de 80, tive vários discos do Alan Parsons – dos quais eu ainda gosto de algumas faixas, até porque ele (e seu parceiro Eric Woolfson) sabiam muito bem o que estavam fazendo musicalmente. Inclusive, assisti um show da British Rock Symphony, onde sentei do lado da mesa de som, e quando Parsons não estava no palco (ele tocou um par de faixas dele), ele estava na mesa de som, a dois metros de mim, fazendo cara de bravo (ele tem cara de bravo) e fazendo o técnico de som suar frio… hehehe…

Durante a década de 80, portanto, The Alan Parsons Project estava sempre presente nas paradas de sucesso, nas rádios, clipes na TV e prateleiras de discos – mas já era um bocado mais pop do que propriamente ‘progressivo’, e seu trabalho era todo super-polido à perfeição de um bom estúdio de gravação com um bom engenheiro (ele) e com tempo.

Então, tirando essas faixas que são da minha memória emocional, meu disco preferido da banda é Tales of Mystery and Imagination – Edgar Allan Poe, de 1976. No título, no topo desta página, omiti o “The” no começo do nome, assim como o sufixo “Edgar Allan Poe”, simplesmente para caber na página… rs…

Tales of Mystery é o disco mais Rock Progessivo de Parsons, e também o mais orgânico (menos ‘pintado’, ‘lustrado’ e ‘polido’ em estúdio) e, por isso, é o que tem melhor qualidade sonora, porque foi menos alterado. E é o mais interessante musicalmente para mim.

Não sei se ele é menos ‘lustrado’ porque foi o primeiro disco, se é por causa do tempo limitado e dos recursos técnicos de estúdio (porque o próprio Parsons tinha sido engenheiro no The Dark Side of the Moon do Pink Floyd apenas três anos antes), ou porque foi uma opção estética dele – mas, o fato é que é o mais bem dosado e interessante no que se propõe musicalmente.

The Alan Parsons Project é, essencialmente, um duo: Alan Parsons e o tecladista, compositor e vocalista Eric Woolfson, que ele conheceu como músico de estúdio no famoso Abbey Road Studios, em Londres. Woolfson tinha a ideia de fazer música em cima das obras do escritor e poeta de terror americano Edgar Allan Poe, da primeira metade do século 19. Nada como um bom ‘álbum conceito’ bem no meio do cenário Progressivo da década de 70!

E assim foi formado o ‘Project’. E, claro, com alguns membros mais ou menos fixos, ao longo dos anos, complementados por muitos músicos de estúdio e músicos convidados.

E é aí que entra a expertise e área de trabalho de Parsons, que era funcionário do arquivo da EMI, na década de 60, onde fazia a duplicação de fitas. Diz a lenda que ele, ao ouvir a fita master de Sgt. Pepper’s dos Beatles, em 1967, ficou tão encantado que se candidatou a trabalhar como operador de fita do nobre estúdio Abbey Road (que pertence à EMI). Lá ele foi, em 69, operador de fita nas famosas Sessões Get Back dos Beatles – que acabaram se tornando o álbum Let it Be, e depois trabalhou como engenheiro de gravação no álbum Abbey Road.

Nesse contexto, foi engenheiro de gravação de bandas como Wings (de um certo desconhecido chamado James Paul McCartney), álbuns do The Hollies e do Ambrosia. Mas, sua maior fama, e onde ele aplicou todas suas habilidades técnicas como engenheiro, foi em um disco de pequena fama chamado The Dark Side of the Moon, em 1973.

Como alguém que se formou dentro de estúdio, desde técnico, passando por operador de fita, até engenheiro de gravação e produtor, Parsons obviamente ia fazer de seus discos, de seu ‘Project’, em 1976, uma detalhada superprodução de estúdio. Tanto que a equipe toda que participa do disco é grande: 30 músicos, entre os principais, as participações, numerosos guitarristas e vocais diferentes para cada faixa, incluindo vários músicos das bandas Ambrosia e Pilot (ambas que já haviam sido gravadas por Parsons no Abbey Road), os teclados de Francis Monkman (Curved Air, Sky), além de uma pequena orquestra e dois coros: um adulto e outro infantil. E, seguindo a tradição do Rock Progressivo, não é todo mundo de uma vez, não! hehehe…

Entre Parsons e Woolfson, temos: teclados, sintetizadores, piano, flauta, cravo e vocais. Depois, com vários outros músicos, temos: arranjos orquestrais, cravo, órgão, piano Fender Rhodes, guitarras, baixos, bandolim, sax, clarinete, etc e tal.

Parsons sempre teve uma dedicação ao uso do amplo leque disponível de músicos de estúdio – o que é compreensível – mas eu sempre achei estranha a tradição dele de usar numerosos vocalistas diferentes, ao longo da existência do Project, porque ele sempre teve ao lado uma das melhores vozes de todo o rock: Eric Woolfson. Os melhores vocais de todos os discos deles, sempre foram os de seu companheiro principal de banda – mas, inclusive, o próprio Woolfson (falecido em 2009) várias vezes se sentiu inseguro sobre alguma participação vocal sua, achando que seria melhor entregar o vocal a algum profissional de estúdio ou convidado. E eu considero isso um erro da parte dele. E, em Tales of Mystery, vocais convidados incluem Arthur Brown (The Crazy World of Arthur Brown) e Terry Sylvester (The Hollies).

CURIOSIDADES

A capa e contracapa, a arte toda de Tales of Mystery and Imagination, foi criada por Storm Thorgerson e sua empresa Hipgnosis – que foram responsáveis também por coisas ligeiramente relevantes para o mundo do rock, como o logotipo do Led Zeppelin, praticamente todas as capas dos discos do Pink Floyd (incluindo o Dark Side), e capas para numerosas outras bandas conhecidas. E, para o Tales of Mystery, existe uma capa diferente, com uma arte diferente, que saiu entre 1979 e 1982.

Em 1987, Parsons decidiu remixar o disco, regravando partes e adicionando instrumentos e também uma narração de Orson Welles em duas faixas, com uma ideia de adequar à primeira prensagem do disco em CD. Acontece que, apesar de algumas pessoas preferirem esta mixagem por causa da narração (e eu particularmente não gosto de narração em cima da música), ainda por cima vários sons e efeitos que Parsons inseriu são exatamente o que eu digo que estraga a sonoridade do rock/pop da década 80 – como o efeito ‘gate’ na bateria, que torna o som dela super seco e irreal – tornando a sonoridade falsa, pequena, magra, seca e inorgânica. Se você, como eu, quer o som cheio que vem dos instrumentos reais, fuja dessa mixagem.

A primeira vez que o disco saiu em CD com a versão original de 1976, portanto, foi somente pelo selo Mobile Fidelity (MFSL), em 1994.

Tales of Mystery já é, nesta altura, Disco de Platina, e na época do lançamento teve boas posições em várias paradas europeias, como o 6o. lugar na parada alemã. Porém, não foi um grande sucesso por si só, e nem no geral dos discos da banda, sendo um dos mais ‘esquecidos’ trabalhos do Alan Parsons Project, ofuscado pelo sucesso de seus discos subsequentes, mais pop, especialmente os da década de 80, como Eye in the Sky e Turn of a Friendly Card.

Para quem é esse disco? Para todos os fãs de rock progressivo da década de 70, fãs de Edgar Allan Poe, fãs de álbuns ‘conceito’ como bem apropriadamente foram muitos dos melhores discos desse gênero, mostrando uma coesão da obra inteira.

Prensagens boas? Esqueça as prensagens nacionais. Procure uma prensagem inglesa ou alemã, original de 1976 – sendo que a inglesa é pelo selo Charisma, e a alemã pelo selo 20th Century Records (e é excelente!). Uma boa prensagem japonesa, de 1976 (selo 20th Century), não faria mal a ninguém e deve ter uma sonoridade superior, assim como a prensagem japonesa de 81 (selo Philips) – apesar dos colecionadores que eu conheço, por questão de coerência histórica, preferirem simplesmente ter um exemplar da primeira prensagem inglesa de 1976. Existem, do final da década de 70, prensagens ‘duvidosas’ por selos como Disc’Az e RCA (França), Interfusion (Nova Zelândia) e Philips (Grécia) – e é preciso lembrar que nem todas as prensagens europeias são boas por definição. E as reedições do selo Casablanca (Espanha, Grécia, Itália, EUA, Portugal, Alemanha) da década de 80, não sei dizer porque nunca as ouvi – mas duvido que batam uma original do final da década anterior. A remixagem de 1987 (aquela da qual fugir) saiu em vinil pelo selo Mercury em vários lugares do mundo. E, por fim, das versões mais recentes, em 180g, eu não confio em nenhuma, pois as que parecem ser masterizações melhores, também parecem usar a mixagem de 1987.

Um agosto muito musical a todos!

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