

Fernando Andrette
fernando@avmag.com.br
Se você me perguntar qual produto gosto mais de testar e conhecer, não ficarei em cima do muro, ou sairei pela tangente, afirmando que depende do meu humor ou estação em que estamos do ano.
Direi serem as caixas acústicas!
Equipamento que mais espaço ocupa em minha memória de longo prazo, pois foi através delas que, aos seis ou sete anos, descobri que eram responsáveis por boa parte do resultado sonoro que escutava tanto em casa, como nos clientes do meu pai.
E desde aquele momento fiz uma correlação entre caixas acústicas e instrumentos musicais, que carrego até hoje.
Tanto que todos que assistiram nossos Cursos de Percepção Auditiva, se lembrarão da minha resposta à pergunta sobre com qual produto devo começar a definir um sistema, saindo do zero?
Sempre pela caixa acústica. Pois ela determinará a assinatura sônica do seu sistema, tanto para o acerto, quanto para o erro.
E quando me perguntam: qual o produto mais ‘encardido’ de se testar?
Minha resposta: caixa acústica!
Se tem um produto que exige demais do revisor, este é sem sombra de dúvida os sonofletores. Pois as variáveis a serem consideradas, são inúmeras.
Começando pela compatibilidade com o sistema, tamanho da sala e sua respectiva acústica, cabeamento (por mais que os objetivistas ortodoxos travem suas mandíbulas e suspirem fundo) e paciência para esperar o amaciamento completo dos falantes e crossover, antes de ir tirando conclusões.
Ou seja, sem as condições necessárias, podemos (nós revisores) cometer injustiças consideráveis.
A lembrança mais antiga que tenho sobre caixas acústicas, foi ver os clientes do meu pai levantando-se, indo até as caixas e batendo com o nó dos dedos no gabinete, para determinar o que ele havia gostado ou não em sua sonoridade.
Ouvi por diversas vezes, que um som oco, determinaria a caixa não ter um grave correto, ou que um gabinete muito rígido, a caixa soaria seca.
Até entender a complexidade que envolve uma caixa acústica soar bem ou não em um ambiente, eu já havia crescido e os primeiros fios de um bigode raso e falho já faziam parte da configuração de meu rosto.
De tanto ajudar amigos e parentes em minha adolescência a montar seus sistemas, foi que entendi o quanto posicionamento, acústica da sala e eletrônica, eram parte integrante do resultado obtido.
Mas foi em 1980 que mais um elemento entrou neste quebra cabeça. A troca dos famosos cabos flamenguinhos e os fios brancos trançados de fio de campainha, por um cabo japonês chamado Furukawa, que fez caixas antes sem grave, velocidade e corpo, se transformarem como mágica bem-feita, dando as problemáticas caixas seladas e sem graça nacionais, um novo sopro de vida.
O produto que mais testamos nos quase trinta anos da revista, foi sem dúvida alguma, caixas acústicas. Fazendo-me entender que não se pode julgar uma caixa apenas estudando suas especificações, curva de resposta, construção, design e qualidade do gabinete.
Cansei de ouvir leitores afirmarem que gabinetes leves ou que soam oco, no teste dos dedos, não podem soar bem e correto.
Fico me perguntando de onde vem essas crendices, já que temos inúmeros exemplos de caixas excepcionais que o gabinete soa como um instrumento musical, fazendo parte do conceito pretendido pelo projetista (o melhor exemplo que me vem à mente, são os modelos da Harbeth, mas existente muitos outros).
Ou o oposto, que caixas de gabinete de alumínio ou mármore, possuem um som seco sem vida.
Meu amigo, se queres realmente escolher a melhor caixa para seu sistema, livre-se dessas ideias pré-concebidas, pois elas irão provavelmente impedi-lo de conhecer excelentes sonofletores que existem atualmente.
Posso lhe garantir que existem opções para todos os bolsos e gostos, do mais simplório ao mais exigente.
Agora é hora de falarmos da Basel Acoustics, um novo fabricante de caixas Suíço, que pode ser chamado corretamente de ‘irmão’ da Boenicke Audio, já que esta foi fundado por Piotr Misiewicz, ex-CEO da Boenicke e sócio de seu projetista e fundador Sven Boenicke. Trabalharam juntos de 2015 a 2020, e continuam muito amigos – e sua mais recente parceria é a primeira caixa da Basel, a Concept V01.
É possível ver as ideias de Sven Boenicke em todos os detalhes, com seu gabinete de madeira maciça, suspensão flutuante para o tweeter frontal, falante de médio-grave de cone de papel de 8 polegadas e um tweeter de 1 polegada na parte de trás do gabinete, como o existente nos modelos Boenicke W5 e W8, por exemplo.
O crossover é também minimalista, com filtro passa-alta de primeira ordem, com ressonador paralelo. Seu cabeamento é litz trançado envolvido em seda, direcional, feito pela LessLoss Audio, e os terminais são WBT. A sensibilidade é de 87 a 90 dB, dependendo da frequência, e sua impedância é de 6 ohms.
Essas são as informações colhidas no site da Basel Acoustics.
A filosofia de Sven Boenicke é: ouça e não se prenda a especificações técnicas. E endosso integralmente, pois o único critério válido para a escolha de uma caixa acústica, é ouvir para saber se é o que você procura e deseja.
Pois se o critério central for avaliar especificação técnica, basta baixar as fichas técnicas de centenas de caixas e se debruçar, como quem preenche seu imposto de renda anual.
Para quem se diverte com comparativos técnicos, deve ser empolgante.
Agora, quem deseja descobrir a razão de uma caixa não soar como uma outra de preço similar e especificações semelhantes, a única maneira é levantar as nádegas da cadeira e ir descobrir um mundo de opções sonoras existentes lá fora.
E essa busca pode ser emocionante e muito elucidativa, meu amigo.
Como todo projeto de Boenicke, essa caixa Concept V01 é um primor de acabamento e design diferenciado. Não me surpreendeu em nada em vez de spikes, a Concept V01 vir com pés de madeira, que são colocados embaixo da caixa para desacoplar o gabinete do piso.
Nesse momento, sugiro a ajuda de uma pessoa, para colocar essas bases circulares. Nada que irá deixá-lo nervoso, principalmente após definir a posição, basta sentar-se e ouvir.
A Concept V01 já sai tocando muito bem, mas 200 horas farão com que os agudos se estendam, os graves ganhem corpo e velocidade e o tweeter atrás – de ambiência – se apresente para a percepção mais clara de ambiência das gravações.
Para o teste utilizamos os seguintes equipamentos: amplificadores integrados Moonriver 404 Reference (teste na edição de dezembro), PA 3100 HV da T+A (clique aqui) e Norma Audio Revo IPA-140 (clique aqui). Powers: Dan D’Agostino Progression M550 (leia teste edição de dezembro), Nagra HD e Soulnote M-3 (clique aqui). Prés de linha: Air Tight ATC-5s (clique aqui), Soul Note P-3 (leia nesta edição teste 1) e Nagra Classic. Fontes digitais: Transporte,
Streamer e TUBE DAC da Nagra. Fonte analógica: Zavfino ZV11X (clique aqui), cápsula Aidas Malachite Silver (clique aqui) e pré de phono Soulnote E-2 (clique aqui). Cabos de caixa: Zavfino Silver Dart (leia teste 3 nesta edição), Argentum da VR Cables (clique aqui), Kubala Sosna Realization (teste edição de dezembro) e Dynamique Audio Apex.
A primeira pergunta ao me sentar para minhas primeiras anotações, foi: “O quanto a Concept V01 será diferente sonicamente da Boenicke W8 que testei e adorei?”
A resposta veio 6 horas após as primeiras impressões, feitas somente com nossas gravações, que são distintas mas mantém uma familiaridade audível.
A começar pela capacidade de criar uma imagem sonora muito similar que, como a W8, vai se ampliando e ganhando maior profundidade à medida que os tweeters às costas do gabinete vão abrindo.
Outra característica semelhante está na apresentação da região média, com o mesmo grau de inteligibilidade e naturalidade dos timbres de vozes e de instrumentos.
Admirável a riqueza do invólucro harmônico na modulação da voz da cantora Yumi Ito na faixa Little Things, do seu mais recente trabalho, Lonely Island.
Acostumado com as W5 e W8, não me surpreendeu este tênue equilíbrio entre detalhe e calor que Boenicke admiravelmente imprime aos seus projetos. Ele está presente também na Concept V01, talvez com uma luminosidade distinta, mais parecida com uma luz de primavera do que de outono, que associo aos seus projetos.
A mim o que importa é a vivacidade sem, no entanto, alterar a intencionalidade captada e transmitida na bela interpretação de Yumi Ito.
Os agudos também me pareceram distintos da W8, respirando com maior facilidade, se espelhando de forma mais natural com a acústica de nossa Sala de Referência, principalmente em gravações com pratos com grande extensão e decaimento suave.
Já os graves, achei-os menos parecidos com as W5 e W8, pois soaram mais abertos e, em algumas gravações que uso para o fechamento do quesito equilíbrio tonal, com menor peso que na W8, na fundação do grave. Porém, com um grau de inteligibilidade muito interessante.
Assim como as Boenicke, a Concept V01 tem alta compatibilidade com cabos, mas os neutros parecem ser o ideal. Quanto à eletrônica, a Concept V01 se saiu bem com todos, portanto será uma questão de gosto e a assinatura sônica que desejará ao sistema.
Meu casamento preferido, com as opções que tinha à disposição?
O pré e power Soulnote: uau! Fiz audições emocionantes com este setup.
Com os integrados, gostei demais do casamento com o Norma e, para grupos musicais menores e vozes, o Moonriver.
Depois das 200 horas, fui buscar o melhor posicionamento para as caixas em nossa sala. Lembre-se que elas precisam de espaço em relação a parede às costas, pois o tweeter atrás precisa de respiro.
Na nossa sala, deixamos a Concept V01 a 2.20m da parede atrás delas, 4m entre elas, com 1.20m das paredes laterais.
O palco sonoro é magnífico – tanto em largura, como profundidade e altura. Planos e mais planos, com cada naipe da orquestra bem focado e recortado. Com o ar à volta de cada solista, perfeitamente delineado.
Tarados por soundstage irão se deliciar com a imagem 3D da Concept V01. É realmente referencial!
E os apaixonados pelo timbre dos instrumentos e intencionalidades, terão aqui um porto seguro, para descobrir os detalhes e a riqueza de paleta de cores de cada instrumento, ou voz.
As texturas são tão impressionantes quanto das caixas Boenicke. Mostrando o quando o projetista entende e sabe como extrair de suas caixas este elemento tão essencial para a beleza da reprodução musical de alto nível.
Transientes perfeitos, em termos de marcação de tempo e variação rítmica.
Dinâmica, surpreendente para o tamanho da caixa e um falante de 8 polegadas. Mas não espere uma macro-dinâmica avassaladora, pois não é este o objetivo desta caixa.
Estamos falando de uma proposta para quem já passou da fase de pirotecnia e testosterona dinâmica. O que a Concept V01 entrega, é uma perfeita ideia do pianíssimo ao fortíssimo, em volumes seguros e confortáveis auditivamente.
Se o seu barato é sustos a cada tiro de canhão na Abertura 1812 de Tchaikovsky, essa não é sua caixa, com certeza!
O corpo harmônico é muito bom, permitindo ouvirmos claramente o tamanho distinto de um cello para um contrabaixo, ou de um clarone para um clarinete. O que exatamente seu cérebro necessita, para relaxar e curtir a música sem ficar estranhando um clarone com um corpo de flauta transversal, e um cello com o tamanho de uma viola.
Entende o que estou dizendo, meu amigo?
Corpo harmônico de um contrabaixo do tamanho de uma pizza brotinho não irá jamais convencer seu cérebro que vale a pena investir um baita tempo e dinheiro em um sistema que tem tamanho reduzido.
A Concept V01 passou com méritos neste quesito!
Eu me lembro o quanto foi chocante ouvir e avaliar a W5SE, e ver aquela book tão diminuta conseguir materializar na minha frente músicos e cantores sem o menor esforço.
E ainda mais surpreso quando testei a pequena coluna W8, ter a possibilidade dela também me ‘transportar’ para o local da gravação.
E a Concept V01 também conseguiu essa façanha, tanto de trazer os músicos para nossa sala, como me levar para ouvi-los na sala de gravação.
Impecável sua apresentação de organicidade!
CONCLUSÃO
Quanto mais caixas acústicas escuto e tenho a oportunidade de acompanhar por anos as ideias de grandes projetistas, mais minha paixão por ouvir novos projetos se aguça.
Um filme passa em minha cabeça, e me leva lá no começo de minha trajetória, em que muitas das caixas que ouvi, nem ficando na ponta dos pés eu encostava minhas mãos na base do gabinete.
Para uma criança, aquelas caixas eram tão imponentes, que chegavam a intimidar em um primeiro contato. Muitas me frustraram, pois como todo leigo e inocente, achava que tamanho é que determinaria a performance.
E logo percebi que tamanho não era a melhor maneira de escolher uma caixa acústica.
A fase seguinte, foi o deslumbramento com design e materiais exóticos para a construção de gabinetes. E novamente percebi que muitas ideias, por mais criativas, podem por inúmeros motivos, desandar.
E ao tornar-me avaliador de equipamento de áudio, finalmente entendi que se tratando de caixas acústicas, as possibilidades são inúmeras, e que no final o melhor a se fazer é: não gerar expectativas antes de ouvir.
Pois surpresas sempre ocorrerão.
A Concept V01 está na lista de belas surpresas, ainda que de antemão soubesse que o projetista tem rodagem e conhecimento suficiente para manter um alto nível de performance.
Ainda assim, Sven Boenicke inovou no design, na forma, na escolha do tweeter fora do gabinete e na própria assinatura sônica final.
Tudo sem perder a mão ou o produto se tornar um ‘primo distante de segundo grau’ de uma família bem estabilizada no mercado.
Inovou-se sem perder o ‘DNA Sonoro’.
E arrisco dizer que essa escolha pode fazer que mais audiófilos desejem conhecer e ter as criações deste projetista.
É uma caixa que possui uma assinatura sônica refinada, aberta (mais que as Boenicke), porém mantendo a fórmula e o equilíbrio tão presente na filosofia e conceito de seu projetista.
O tempo irá dizer se estou certo!
Se você deseja as qualidades que descrevi em minha avaliação, possui uma sala adequada para extrair o melhor desta caixa e eletrônica a altura, escute-a com atenção.
Pois ela possui aquele tênue equilíbrio entre vivacidade e calor, que muitos audiófilos tanto desejam para a assinatura sônica de seus sistemas!
PONTOS POSITIVOS
Uma caixa isenta de fadiga auditiva, para longas imersões sonoras.
PONTOS NEGATIVOS
Exigente com seus pares, e com salas de pelos menos 16 a 30 m2.
ESPECIFICAÇÕES
| Crossover | Minimalista, com filtro passa-alta de primeira ordem e ressonador em paralelo |
| Cabeamento interno | Litz trançado envolvido em seda, direcional |
| Terminais | WBT NextGen |
| Sensibilidade | 87 a 90 dB (dependendo da frequência) |
| Impedância | 6 ohms |
| Dimensões (L x A x P) | 16,1 x 105 x 39 cm |
| Peso | 30kg |
| CAIXAS ACÚSTICAS CONCEPT V01 DA BASEL ACOUSTICS | ||||
|---|---|---|---|---|
| Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
| Soundstage | 13,0 | |||
| Textura | 13,0 | |||
| Transientes | 13,0 | |||
| Dinâmica | 11,0 | |||
| Corpo Harmônico | 12,0 | |||
| Organicidade | 13,0 | |||
| Musicalidade | 13,0 | |||
| Total | 101,0 | |||
| VOCAL | ||||||||||
| ROCK, POP | ||||||||||
| JAZZ, BLUES | ||||||||||
| MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
| SINFÔNICA |


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