

Fernando Andrette
fernando@avmag.com.br
Para você poder acompanhar meu raciocínio, preciso pedir para você também ler posteriormente o teste deste mesmo power ATM-1, mas a versão S, que publicamos na edição 190.
E me deixou tão impressionado na época, que acabei ficando com ele e posteriormente troquei-o pelos monoblocos ATM-3 (leia teste na edição 193).
Cito a vocês esses fatos, para que entendam a felicidade que foi, após testar o Air Tight 2211 (clique aqui), receber o novo ATM-1E junto com o novo pré ATC-5s.
Fabricantes japoneses, como Air Tight, Shindo, Kondo e Leben, só lançam uma nova série de seus produtos em linha, se realmente for um avanço considerável.
E, acreditem: quando o fazem, as melhorias serão audíveis!
Com mais de 40 anos de mercado, o power ATM-1 foi lançado em 1987, com uma topologia push-pull com as famosas válvulas EL34, um velho e conhecido pêntodo dos amantes de valvulados, que começaram a ser produzidos logo depois do término da Segunda Guerra Mundial.
Para ser exato, as primeiras EL34 foram lançadas em 1949, e por mais que tenham sido utilizadas em inúmeros amplificadores de áudio desde então, elas realmente se tornaram ‘famosas’ ao serem a escolha do fabricante de amplificadores de guitarra Marshall, pela sua robustez e sua inconfundível assinatura sônica.
Sou fã das EL34, e passei minha infância, adolescência e vida adulta rodeadas de amplificadores push-pull e, por ironia do destino, quando fui gerente de marketing da Oliver (do grupo Roland no Brasil), para o desenvolvimento de nossos amplificadores de guitarra tivemos como referência um cabeçote Marshall e um amplificador Roland, que utilizavam EL34.
O que mais admiro nessa topologia, é que são as únicas válvulas que conheço e ouvi que, em situações extremas de dinâmica, saturam sem, no entanto, tornar insuportável ou ‘estragar’ aquele momento.
Como dizia meu pai, ‘caem com classe’.
O novo ATM-1E foi lançado ano passado, e como todos os produtos deste fabricante, sem holofotes ou inúmeros reviews pelo mundo afora. Existem mudanças visuais, como mais um transformador, novo controle de bias para as quatro válvulas EL34 e o uso de uma ECC81 (12AT7) e duas 6CG7 (6FQ7) para o processamento de sinal, devido a sua excelente linearidade e seu ótimo silêncio de fundo.
Agora, frontalmente não existe mais uma segunda entrada RCA, os transformadores de saída são agora da Tamura, a bobina de indutor é enrolada a mão e envolta em papel oleado, as conexões são ponto a ponto de todos os componentes, os cabos são de cobre em um circuito completamente novo e sem nenhuma placa de circuito impresso.
Se você ama produtos hi-end genuinamente artesanais, e montados um a um, por alguém que faz isso com maestria, você precisa ouvir esse power!
As válvulas são escolhidas e medidas em pares. Os dois botões de volume são os mesmos de sempre, para aqueles que estejam sem um pré de linha por algum motivo e ainda assim desejam ouvir música.
É a melhor solução para se extrair o suprassumo deste belo amplificador? Evidente que não, mas para quebrar um galho é uma opção inteligente.
O terceiro botão no painel frontal é para o ajuste de bias das quatro EL34, e o botão da direita é de liga/desliga.
Nas costas temos uma única entrada RCA, e as opções de terminais de caixas para 4 e 8 ohms, e entrada do cabo de força IEC.
Segundo o fabricante, o ATM-1E fornece 35 Watts por canal, e a recomendação do fabricante é que ele seja usado com caixas de sensibilidade acima de 90 dB (concordo plenamente).
Para o teste utilizamos o nosso Pré Classic da Nagra, e o Air Tight ATC-5s, seu parceiro natural, com vários cabos RCA da Dynamique Audio, Zavfino (clique aqui), Virtual Reality e Sunrise Lab. Os cabos de força foram da Sunrise Lab, Virtual Reality, Transparent Audio Reference G6, e Dynamique Audio Apex.
Vieram direto da alfândega para nossa sala de testes, então foi preciso deixar ambos amaciando por 100 horas antes de iniciarmos as avaliações.
O teste do pré de linha ATC-5s sairá na edição de outubro próximo.
Mas o fechamento da nota do ATM-1E foi feito com ambos os prés de linha utilizados, OK?
Preciso, antes de iniciar a avaliação, dizer duas coisas: nenhuma foto por mais bem tirada, faz jus a ter um contato de terceiro grau com esses dois equipamentos. Sua construção, acabamento e detalhes, são primorosos, a ponto de ser impossível as pessoas não chegarem bem perto para apreciar os detalhes.
Seu design é atemporal, ainda que as formas, tamanho e apresentação sejam as mesmas há quatro décadas!
Isso, meu amigo, se chama paixão levada ao extremo em todas as etapas. Da concepção à execução!
A sensação é que foram feitos para durar um século se bem cuidados, e quando visito fóruns asiáticos de equipamentos audiófilos, vejo fotos de equipamentos da Air Tight de 30, 40 anos atrás, impecavelmente reluzentes e em perfeito estado.
Acho que perdemos muito deste referencial de produtos eletrônicos meticulosamente produzidos, que atravessam gerações encantando e surpreendendo aos desavisados.
Cada vez que pego ou ouço um produto da Air Tight, me penalizo por ter-me desfeito do ATM-3, pois o fiz com muito pesar, pelo fato de muitas caixas que chegavam para teste não terem compatibilidade, pela sua limitada potência.
São escolhas que, como profissionais, necessitamos fazer – não tem jeito!
A primeira grande notícia: o ATM-1E precisará de apenas 40 minutos, para já sair tocando lindamente.
Ele e seu par, o pré ATC-5s, sequer precisaram das 100 horas de queima, pois com 50 horas já estavam naquele ponto de sabermos a hora em que iniciamos as audições do dia, sem a mínima ideia da hora de conseguir parar de ouvir.
Então, as 100 horas mantive por puro preciosismo, na esperança de conseguir mais uma ‘lapidação final’.
A segunda notícia: o ideal, toda vez que for escutá-lo, é esperar esquentar os 40 minutos.
Faz diferença, Andrette?
Sim. A estabilização térmica é essencial para o grau de naturalidade e refinamento que o ATM-1E possui.
E você irá perceber quando ele já se encontra com a temperatura estabilizada, com uma melhora considerável na apresentação das texturas!
Se o amigo não tiver muita referência de instrumentos acústicos, se concentre em observar as vozes. Quando no ponto ideal térmico, nuances de técnica vocal, como sustentação de notas em cantores líricos, se tornam mais ricas e detalhadas.
O invólucro harmônico fica mais evidente, e é fácil de acompanhar todas as intencionalidades.
Gosto muito de ouvir ‘interpretações’ de pianistas para as obras solo dos compositores franceses, principalmente Debussy e Eric Satie. Para ter certeza de que o que estava ouvindo não era uma ‘ilusão interpretativa mental’, eu por três dias iniciei as audições com o sistema frio, ouvindo as mesmas peças com o mesmo pianista.
Nos primeiros 30 minutos, a atenção era dispersa por detalhes como a respiração do pianista (Claudio Arrau, audível em suas gravações solo para o selo Philips, principalmente do Debussy). E, depois do ATM-1E quente, era impossível desviar a atenção do todo, e a atenção se concentrava apenas na execução e interpretação.
Como reiteradamente escrevo em meus artigos de Opinião, nosso cérebro, quando possui a referência mais completa e detalhada de um acontecimento musical, ele imediatamente reconhece quando tudo foi para o lugar, o que denomino de ‘encaixe sonoro interno’, realizado em nossa mente e não no sistema auditivo.
Você quer entender como essa sinapse ocorre? Exercite ouvir uma peça musical simples, que você admira, apenas na sua mente.
Se você conseguir reproduzi-la como se a estivesse ouvindo, você já tem a sua ‘interpretação’ daquela obra fixada no seu hipocampo.
Este é um exercício ótimo para memorizar e entender como são feitas as sinapses em nossa mente, e ganhar confiança na hora de escolher seus upgrades.
Pois você saberá instantaneamente se aquela reprodução musical está precisa ou não.
Veja que evitei usar o termo ‘correto’, trocando por ‘preciso’, pois é o que realmente ocorre quando interiorizamos detalhadamente nossas referências musicais.
Vou dar um exemplo: imagine que você sabe que determinada música que utiliza para avaliar a microdinâmica, tem uma passagem muito sutil, em que um prato de acompanhamento precisa soar 13 vezes, e tem equipamentos em que contar mentalmente essas 13 vezes é extremamente fácil, e por inúmeras razões em outros produtos é uma dificuldade adicional, pois você terá que desviar a atenção do todo para se concentrar na contagem.
Percebe que não é uma questão de achar correto ou errado?
É apenas conhecer exatamente o que se deve ouvir para saber se a microdinâmica é ou não exemplar.
Voltando especificamente ao ATM-1E, ele possui um belo equilíbrio tonal. Se você acha que um amplificador valvulado de apenas 35 Watts terá dificuldade em reproduzir graves corretos, repletos de energia, sustentação e deslocamento de ar, ouça o ATM-1E com um par de caixas devidamente corretas e compatíveis, e irá rever sua concepção de valvulados modernos.
Claro que, para ter essa resposta de graves, as caixas utilizadas nos teste foram as: Stenheim Alumine Two.Five (leia teste na edição de setembro) e as Dynaudio Legacy Contour (clique aqui). Ambas caixas com mais de 90 dB de sensibilidade.
É o que o fabricante sugere, e constatei de fato!
O ATM-1E pode, por exemplo, tocar com as Audiovector Trapeze? Pode, mas não terá o mesmo desempenho, pois é uma caixa de menos de 90 dB de sensibilidade.
Então, a nota final do ATM-1E também foi com a utilização dessas duas caixas com maior sensibilidade.
A região média do ATM-1E é ‘translúcida’ – por favor, não confunda com transparente, pois não é a mesma coisa. Algo translúcido permite a passagem de luz, sem vermos claramente o objeto através dele.
O que desejo dizer é: toda região média possui luz suficiente para vermos o acontecimento musical, sem, no entanto, ser notoriamente transparente e não conseguirmos nos fixar no todo.
Pois quando um sistema é muito transparente, os detalhes possuem o mesmo peso que o principal, que o todo.
Nada de errado se você deseja um sistema ultra transparente, é um direito seu, e existem excelentes exemplares para essa assinatura sônica.
Mas não é o caso do ATM-1E.
Nele o acontecimento musical estará perfeitamente delineado, a sua frente, porém sem os detalhes terem o mesmo impacto que o todo.
Eu sempre lembro os participantes do Curso de Percepção Auditiva, que o esforço necessário para ouvir sistemas transparentes é muito maior que para ouvir sistemas neutros ou eufônicos.
E, voltando ao equilíbrio tonal do ATM-1E, os agudos são de um ‘lirismo e delicadeza’ raríssimos! Pois são precisos sem jamais serem agressivos ou proeminentes.
E você só percebe esse detalhe ao ouvir instrumentos que estão no limite do brilho nas altas, como violinos, flautins, vibrafone e sax soprano. Com esses instrumentos, você percebe nitidamente como alguns equipamentos conseguem se equilibrar entre a fidelidade e a finesse.
O que posso lhe dizer, amigo leitor, é que passar um tempo com este ATM-1E e o ATC-5s, pode lhe fazer rever inúmeros conceitos, ideias e expectativas que temos na nossa busca pelo sistema dos sonhos.
Seu palco sonoro é divino, em termos de tridimensionalidade e planos. Tudo corretamente focado, recortado e apresentado com amplo espaço entre os instrumentos e os músicos. Para amantes de grandes obras orquestrais será um genuíno deleite sonoro.
Como iniciei falando das texturas, para aí falar de equilíbrio tonal e soundstage, sigamos com os transientes. Apenas dizer que a marcação de tempo, ritmo e variação de andamento são precisos, e completamente sem esforço algum para acompanhar.
Nunca, com este pequeno indomável, ocorrerá uma apresentação desleixada ou letárgica. Ao contrário, este ATM-1E pulsa vida, frescor e emoção!
A macro-dinâmica, com as caixas certas, é uma referência absoluta. Nada que ouvi nem em analógico nem em digital, abalou sua autoridade e folga nas passagens dinâmicas mais severas.
Mesmo em nossa sala com 50 metros quadrados!
Com as Stenheim Alumine Two.Five, os tímpanos, órgão de tubo, bateria, pianos solos, nos fortíssimos foram magistrais!
A micro-dinâmica, por não ser ultra transparente, não irá mostrar os ínfimos detalhes, mas nada que tenha sido captado, mixado e sobrevivido intencionalmente na masterização, deixará de ser apresentado.
Falo daqueles detalhes, por exemplo, que apenas as eletrônicas com o maior silêncio de fundo e uma distorção harmônica ínfima reproduzem – esses sutis detalhes não estarão presentes.
Eu me lembro que, quando tive o ATM-1S, eu anotei em meus cadernos pessoais o quanto ele havia sido ‘condescendente’ com a reprodução do corpo harmônico nas gravações digitais remasterizadas do final dos anos 80, que eram pobres e tudo soava pequeno quando comparado à mesma gravação analógica.
O ATM-1E agora ajuda na reprodução do corpo harmônico do streamer, que é ainda mais pobre que qualquer mídia física. Constatei isso com inúmeros discos que toquei em LP, CD e streamer.
Quer ouvir um piano de cauda na sua sala, corretamente? Se você tem sistema e sala, o ATM-1E com o ATC-5s, não será nenhum problema!
E aí chegamos na materialização física do acontecimento musical em nossa sala. Uma pergunta recorrente que me fazem: Andrette, existe diferença na organicidade nos três tipos de assinatura sônica?
Não. E mostrei isso no último Workshop.
O que ocorre é que um sistema muito bem ajustado, com uma assinatura sônica mais neutra ou transparente, poderá fazer seu cérebro se ‘enganar’ mais rápido do que um eufônico.
Mas, se estivermos falando de gravações tecnicamente primorosas, os três tipos de assinatura conseguem essa façanha.
Então, tive a companhia de inúmeros solistas, cantores e quartetos em minha sala, no tempo de convívio com essa dupla maravilhosa!
Se este é um dos quesitos que você mais procura na montagem do seu sistema, fique sossegado que ele não o decepcionará.
E, então, chegamos ao oitavo quesito de nossa Metodologia – musicalidade, a soma dos outros sete quesitos, que no caso de todo produto com uma assinatura sônica para o eufônico, sempre irá ter um ‘verniz’ mais convidativo a audições regadas tanto de excelentes gravações, como também com espaço para as gravações mais limitadas tecnicamente.
Esse é o grande trunfo da assinatura sônica eufônica.
Sua condescendência nos permite resgatar discos há tempos esquecidos em nossas estantes.
E eu acho isso esplêndido.
CONCLUSÃO
Existem marcas audiófilas autorais, que não aceitam fazer mais do mesmo. Querem ousar, sonhar e sinalizar caminhos alternativos.
Em um mundo tão automatizado e com tudo absolutamente ao alcance das mãos, que fabricante de áudio hi-end irá ousar fazer um pré de linha sem controle remoto? Ou manter o mesmo design por quase meio século, construir um a um, à mão, todos os seus equipamentos, e só lançar novos produtos quando estiverem certos de que existem melhorias a serem feitas.
Felizmente ainda existem empresas com essa filosofia, que atravessaram revoluções tecnológicas e que só acompanham as transformações naquilo que realmente importa – a performance!
O ATM-1E, não venderá centenas ao ano, ainda que perto dos equipamentos ultra hi-end, seja acessível.
Seu público também é especial: são audiófilos que jamais perderam sua essência melômana, e olham para sua discoteca pessoal com a mesma reverência com que guardam suas emoções e memórias.
E, por isso mesmo, desejam montar um sistema do qual possam desfrutar de toda a sua discoteca sem expurgar nenhum exemplar.
E abrirão mão de qualquer praticidade para serem fiéis aos seus princípios e objetivos.
O ATM-1E é para este perfil de consumidores, amantes da música acima de qualquer coisa!
Se você faz parte dessa distinta legião, ouça a boa nova: o ATM-1E é muito mais que sua exigente expectativa audiófila!
PONTOS POSITIVOS
A expressão máxima da musicalidade.
PONTOS NEGATIVOS
Baixa potência que exige caixas de alta sensibilidade.
ESPECIFICAÇÕES
| Tipo | Amplificador de potência estéreo valvulado |
| Tipo de circuito | Push-pull |
| Resposta de frequência | 20Hz~30kHz (-1dB/30W) |
| Impedância de entrada | 100kΩ |
| Sensibilidade de entrada | 700mV (35W) |
| Fator de dumping | 6,7 (1 kHz/1 W) |
| Consumo de energia | 250 VA |
| Válvulas Empregadas | EL34 x4, 12AT7 (ECC81) x1, 6CG7 (6FQ7) x2 |
| Saída nominal | 35 W + 35 W (8 ohms) |
| Dimensões (L x A x P) | 365 x 305 x 225 mm |
| Peso | 21,5 kg |
| AMPLIFICADOR ESTÉREO AIR TIGHT ATM-1E | ||||
|---|---|---|---|---|
| Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
| Soundstage | 12,0 | |||
| Textura | 13,0 | |||
| Transientes | 13,0 | |||
| Dinâmica | 12,0 | |||
| Corpo Harmônico | 13,0 | |||
| Organicidade | 13,0 | |||
| Musicalidade | 14,0 | |||
| Total | 103,0 | |||
| VOCAL | ||||||||||
| ROCK, POP | ||||||||||
| JAZZ, BLUES | ||||||||||
| MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
| SINFÔNICA |


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