

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
O que é um Audiófilo? A terminação ‘filo’ vem do grego, significa ‘amante’ ou ‘que ama’ algo ou uma atividade. No caso, o Audiófilo ama áudio.
Todo mundo que está em um fórum ou grupo de discussão ou página de redes sociais que falam de equipamentos e sistemas de som, são ‘Audiófilos’. Simples assim. Ninguém entrou lá porque “apertei o botão errado, e postei 15 textos em dois dias”…
Não, não é algo restrito a quem tem dinheiro, e nem a quem tem equipamentos caros. E, sim, o pessoal de vintage também é Audiófilo – a não ser, talvez, aqueles que nunca liguem nenhum aparelho e ouçam música nele.
Existem, então, audiófilos que só amam aparelhos e não amam música? Claro! Mas, a maioria dos que eu conheço ainda usam boa parte de seu tempo para ouvir música, seja de maneira dedicada ou como companheira de atividades.
POR QUE MITOS?
Uma boa parte dos audiófilos parece achar que o resto tem como atividade principal criar e seguir mitos – ou seja, invenções, mentiras, coisas que não procedem, placebos, etc e tal.

Então, quando não entendem algo, põem logo nessa categoria de Mito. E isso parece que virou lugar comum dentro do hobby exatamente por ele ser complexo e necessitar de dedicação.
Na verdade, você pode muito bem só querer um bom equipamento, e ouvir música com boa qualidade sonora, e não ficar tentando melhorar sempre seu equipamento, ou tirar o máximo que ele dá. Uma analogia é: você pode curtir trens elétricos só assistindo eles rodando em um circuito, ou pode querer saber como fazer manutenção dos mesmos, como restaurar locomotivas e vagões, como construir maquetes, pode pesquisar, conhecer e entender sobre os trens que originaram aquelas miniaturas.
A profundidade depende de cada um, do que cada um procura.
Mas não se pode achar que, por não entender de algo específico, esse algo é mentira, placebo ou invenção. Isso é ofensivo, e pouco inteligente.
E, assim, a busca por definir ‘verdades’ próprias mal ajambradas sobre um ou outro mito, muitas vezes traz resultados que são, no mínimo, míopes.
DIGITAL É MELHOR QUE VINIL – OU VICE-VERSA?
Alguns mitos audiófilos são polarizações – como, por exemplo, dizer que digital ou vinil são um melhor do que o outro.
Aí, em vez de se dedicarem a analisar em profundidade, de maneira prática, sobre qual seria o resultado final real, no mundo real (como soaria), os ‘gurus’ e ‘entendidos’ objetivistas, que detestam ver qualquer coisa que seja na prática (porque não dá para usarem a ciência mal aplicada como apoio e para ter onde pôr a culpa), definem tudo de acordo com as teorias que desenvolveram.

Acontece que, entre vinil e digital, há muito mais coisas a serem vistas e comparadas – e fatores como qualidade da gravação e da masterização, influem mais nas diferenças (e semelhanças) entre o digital e o vinil, do que todas as amplas teorias. Qualidade dos equipamentos que irão reproduzir, então, nem precisaria ser falado.
Se você vai buscar o toca-discos decente mais barato que tem no mercado, por exemplo, e compará-lo com um streamer e DAC do mesmo nível de preço, a probabilidade é grande do digital ser melhor. Mas essa relação de preço e qualidade pode ser bastante variável, especialmente porque um bom toca-discos, bom de verdade, começa em um valor mais alto – pois é um equipamento mecânico de precisão. E, ao mesmo tempo, DACs e streamers de entrada bons, com bom preço, têm evoluído bastante.
Há os que não suportam um único barulhinho do vinil – mesmo que em bons toca-discos com LPs em decente estado de conservação, pouco ou quase nada tenham de barulho de superfície – e assim, para esses, o digital ganha.
E há os que dizem que ‘o vinil degrada a cada audição’. Para esses, eu tenho vontade de perguntar: “se eu tenho um LP que era do meu avô, comprado na década de 60, e ele toca incrivelmente bem em um toca-disco e cápsula modernos de alto nível, o que eu faço? Jogo ele fora porque não encaixou na teoria?”
Experiência, prática – e tirar o melhor que cada sistema pode dar – falam mais alto.
AH, CABOS… SEMPRE TEM QUE FALAR DE CABOS
Questão 1: Se existe diferença no som resultante de um sistema, com um cabo e com outro cabo, então existirão cabos melhores e cabos piores – e aí é uma questão de custo, de gasto. E o que é ‘melhor’? É o mais correto em matéria de timbre, mais equilibrado tonalmente, para começar…

E existem cabos caros bons, e cabos caros não tão bons – existem cabos baratos que batem muitos cabos bons. Mas não existem cabos baratos que batem um cabo caro realmente bom. Ou seja, aquilo que é realmente bom, que é o melhor que existe, quase sempre está na categoria do super-caro.
O que nós, com orçamento limitado, podemos fazer para remediar essa situação? Compramos os melhores componentes que podemos comprar, para montarmos os melhores sistemas que podemos montar, com o melhor cabo que for mais adequado ao nível e assinatura sônica do seu sistema. E isso, digo, em todos os níveis de preço, incluindo o barato.
Questão 2: A ‘ciência’ diz que não há diferenças sonoras resultantes de diferentes cabos? Não, a ciência não diz isso, não – até porque estamos longe de esgotarmos os métodos e disciplinas científicas para a medição e compreensão como cabos se comportam em áudio.
Eu, por exemplo, percebo diferenças entre cabos, e entre componentes, assim como muita gente o faz. E faço isso de maneira repetível e treinada – onde comparações e testes auditivos são feitos com equipamentos de referência (em vários níveis de preço e de recursos), com o setup e ajustes corretamente bem feitos, com longa audição de música bem gravada a qual conheço bem, e tendo como referência a música real que saí desses instrumentos.
Me ofende dizerem que é placebo, que o ‘expectation bias’ está sempre presente, e que só é possível testar corretamente usando o tal ‘Teste Cego’. Eu percebo muito bem, me treinei e me eduquei para tal, e o faço profissionalmente, usando o método descrito no parágrafo acima. Assim como muitos profissionais da área, de todos os níveis.
BURN-IN… O TAL AMACIAMENTO
Uns dizem que não existe amaciamento, que é você que se acostumou com o som daquele equipamento, que o seu cérebro é que foi ‘amaciado’. E essa explicação é ofensiva de tão estúpida.

Como já trabalhei no desenvolvimento e fabricação de equipamentos e acessórios para áudio, já peguei várias vezes dois equipamentos iguais, e comparei as várias diferenças sonoras entre o que tocou 50 ou 100 horas, e o que tinha acabado de sair da bancada de montagem. E, sim, ambos estavam idênticos de componentes e montagem – e um soava amaciado e outro não. E essa foi uma experiência várias vezes repetida em 20 anos como profissional da área.
Já ouvi dizerem que se amaciamento fosse real, os fabricantes fariam ele na fábrica para ver se os resultados são consistentes. E é óbvio, claro e sabido que fazíamos, e que todos os desenvolvedores o fazem.
HI-RES – ALTA DEFINIÇÃO É MELHOR POR DEFINIÇÃO?
Eu falo muito sobre ser Quantitativo em vez de Qualitativo em áudio.

Pensar apenas em Quantidade, e achar que isso acaba sendo ‘qualidade’, é um dos piores e maiores erros cometidos na audiofilia. É mais Watts, tocar mais alto, dar mais grave, ter caixas maiores, ter mais recursos, mais botões, mais mais mais!
E, muito, a tal da Alta Definição, a Hi-Res, acaba sendo vista mais como Quantidade do que Qualidade.
Como assim?!?
Uma música bem gravada sendo reproduzida de um arquivo em MP3 de 320 toca melhor do que uma música mal gravada sendo reproduzida de um arquivo em FLAC 24-bit/192kHz. Simples assim.
A captação, o processo de mixagem e de masterização, são mais importantes do que se o arquivo ou streaming estará ou não em hi-res – principalmente para quem ouve música que foi gravada antes do ano 2000, a qual mal passou perto de 24-bit/96kHz – e, ainda assim, podia ser de gravação fenomenal, ou ser algo virado do avesso pelo engenheiro de gravação e pelo produtor.
E, no lado do equipamento, já vi DACs que vão até 24/96 tocarem melhor do que DACs que vão até 32-bit/384kHz – ou seja, especificação não quer dizer, necessariamente, qualidade sonora.
VINTAGE É MELHOR QUE OS NOVOS?
Muito se diz que equipamentos antigos, os chamados ‘vintage’, são tão bons quanto (ou melhores que) os novos, que teriam apenas visual aprimorado. Verdade? Absolutamente, não.

Costumo fazer uma analogia com carros – apesar de eu gostar muito de carros antigos – que tirando a beleza, em praticamente qualquer outro parâmetro um carro atual é muito melhor: desempenho, motores menores e mais econômicos com queima mais limpa do combustível, segurança, estabilidade, conforto, acabamento, performance, etc e tal.
Por quê? Porque a tecnologia evolui e o mundo continua rodando – então claro que os equipamentos de áudio evoluíram.
Outra diz que o som de equipamentos vintage é mais quente e mais musical – mas estão confundindo falta de definição e resolução com musicalidade e calor, e nada tem a ver uma coisa com a outra. Até entendo essa tirada, pois muitos equipamentos dos últimos 20 anos soam frios na sua busca por hiper-definição e hiper-detalhamento que não existem na música, onde até já ouvi audiófilos dizerem que seus equipamentos mostram mais detalhes que o acontecimento musical real, e é um disparate incrível alguém pensar que isso é algum tipo de vantagem!
Todos os sistemas que eu tive nos últimos anos prezavam um equilíbrio de toda a sonoridade com a busca pela naturalidade e até pela neutralidade tonal – sempre com o máximo de detalhamento que aquele sistema permitia. E isso resulta em amplo prazer em se ouvir música, com baixíssima fadiga. E, dessa mesma maneira, são todos os sistemas que demonstramos em nossa sala no nosso evento anual Workshop Hi-End Show, no final de abril dos últimos dois anos.
Desculpem os adoradores dos equipamentos vintage, mas nunca um sistema de áudio soou tão bem quanto nos últimos anos – praticamente vivemos uma Renascença que, inclusive, tem relações de preço/qualidade que chegam a ser 10 vezes melhores que uma década atrás.
Bom, por hoje é só, pessoal…
Não se esqueçam de mandar melancias podres voadoras para: christian@avmag.com.br.