

Fernando Andrette
fernando@avmag.com.br
Comecei a me preparar para esse desafio no final do ano passado, quando recebemos uma série de tapetes e clamps para toca-discos, de inúmeros fornecedores.
Não é um tema que já não tenhamos abordado na revista, porém nunca com um número tão grande de opções como agora.
Adoro este tipo de desafio, e a possibilidade de rever conclusões anteriores, com a evolução constante na utilização de materiais para a construção de novos acessórios, e a aplicação de novas ideias para se extrair melhores resultados.
Os tradicionalistas, que odeiam ‘revisitar’ seus conceitos, certamente se sentirão incomodados com as inúmeras opções atuais de tapetes e clamps disponíveis no mercado.
Pois todos que têm mais de 40 anos de idade, e que viveram o apogeu do analógico, certamente lembrarão que em termos de tapetes existiam apenas três opções: cortiça, feltro e borracha.
E os melhores toca-discos dos anos 60 e 70 já vinham de fábrica com seus tapetes originais, então somente malucos e os curiosos se davam ao luxo de ver se as outras opções existentes poderiam trazer algum benefício sonoro audível.
Sinceramente, não me lembro de nenhum audiófilo sugerindo ou compartilhando experiências com troca de tapetes em seus sistemas.
E quanto aos clamps, a esmagadora maioria dos toca-discos e audiófilos desse período, sequer cogitava em colocar algo em cima dos LPs para tentar aprimorar a performance dos seus discos.
Puxando pela memória, foi a partir dos anos 80 que surgiram os primeiros clamps de metal e de madeira no mercado. E posso garantir que não foi nenhuma febre até a virada da década.
Aí, a partir dos anos 90, o mercado recebeu uma enxurrada de modelos para todos os gostos e bolsos.
Eu precisei dividir em duas partes este Opinião, para não tornar por demais extenso o artigo e não confundir o leitor, pois se tapetes atualmente é algo corriqueiro na maioria dos toca-discos existentes, e as melhorias são audíveis quando a escolha é assertiva, e o fabricante indica, os clamps ainda são um acessório que é visto com muita cautela, pois não existe um consenso sequer quanto ao seu peso ou tipo de material. E muitos fabricantes deixam claro que não devem ser usados em seus produtos – veja por exemplo a Rega, que desaconselha o uso terminantemente.
Então, nessa primeira parte falaremos somente de tapetes, OK?
Para esse artigo, utilizei três toca-discos: Reloop Turn X (clique aqui), Mo-Fi Fender (quis muito testar este belo toca disco, mas quando o solicitei, soube que as 1000 unidades produzidas haviam esgotado, tornando-se peça de colecionador), e o Zavfino ZV11X (clique aqui).
Os tapetes que ouvimos foram: Feltro Anti-Static Record Mat, Zavfino misto de cortiça de um lado e borracha do outro, Zavfino todo de borracha, Zavfino de couro, Zavfino múltiplas camadas (este ainda é um protótipo, gentilmente enviado pelo fabricante para nossa apreciação), Lehmann Stage 1 Platenmatte (de cortiça de grande espessura que só foi possível avaliar no TD Zavfino), o novo Origin Live Strata Multi-Player Mat, Origin Live Platter Mat, e os modelos Eclipse (minha referência nos últimos três anos) e o novíssimo Absolute (clique aqui), ambos da Hexmat. O que deu um total de 10 tapetes avaliados.






Sendo que: o Lehmann Stage 1, o Origin Strata, o Zavfino de múltiplas camada e o Hexmat Absolute, só puderam ser avaliados no toca-discos Zavfino, devido a espessura dos tapetes causar dificuldades com altura máxima possível do VTA nos outros dois toca-discos, onde não foi possível ouvirmos esses quatro tapetes.
O que já deve servir de alerta para todo leitor que quiser ouvir em seus toca-discos esses quatro tapetes: é preciso ter em mente que a espessura deles pode ser um obstáculo intransponível.
Eu diria que os fabricantes desses tapetes têm plena consciência que esses acessórios são apenas para toca-discos mais sofisticados e que permitam ajustes de VTA bem extensos.
Mas antes de iniciarmos as observações, preciso explicar ao leitor mais leigo o motivo do uso de um tapete de melhor qualidade em seu toca-discos e os benefícios que este upgrade pode trazer a um setup analógico.
Muitos devem se perguntar: qual a função de um tapete em um toca-discos?
A função primordial é eliminar ao máximo as ressonâncias do prato, vindas pelo motor, correia, causando vibrações que passam para a agulha e consequentemente misturam-se ao sinal original da gravação.
Como esse fenômeno vibracional é ouvido? Deixando a inteligibilidade mais difusa ou suja.
E quando acertamos no tapete ideal para o nosso toca-discos, observamos imediatamente uma melhora na inteligibilidade, às vezes uma menor aspereza ou dureza nos agudos, graves com melhor definição, peso e recorte, e uma região média mais limpa e uma maior facilidade de acompanhar mesmo as passagens complexas com muitos instrumentos.
E não pense que é preciso um ‘ouvido de ouro’ para observar essas melhorias, pois quando encontramos o tapete ideal para o nosso setup analógico, o fato de o tapete bloquear parte das ressonâncias antes transmitidas livremente, será perceptível imediatamente.
Tanto que muitas vezes os céticos ficam sem saber como entender essa ‘mágica’.
Então, o princípio lógico está na eficiência do tapete isolar as ressonâncias do prato, para que a cápsula não capte sinais não existentes no sulco do disco.
Elementar, meu caro Watson! Mas essa é apenas parte da questão, pois existem pratos e pratos, assim como, braços e braços. E cápsulas e cápsulas.
Então esqueça aquela fórmula ‘exata’ de que para pratos de alumínio o ideal é um tapete x, ou para pratos de vidro tem que ser o tapete Y, e para pratos de acrílico ou composites similares ao PVC dos LPs, o tapete Z. Como já cansei de ler em testes de tapetes, em inúmeras publicações especializadas.
Pois o buraco é muito mais embaixo, meu amigo! Tão mais embaixo que, por isso, sempre falo aos participantes dos nossos Cursos de Percepção Auditiva que o setup mais complexo de se ajustar ainda hoje, continua sendo o analógico. Trata-se de uma genuína ‘Caixa de Pandora’, que deveria ser aberta apenas pelos que realmente entendem do riscado!
Pois no setup analógico, as partes possuem uma relação direta com o todo, e nada pode ser negligenciado ou tratado com menor importância.
Então, se o amigo chegou até aqui, a primeira dica que posso lhe dar é: ouça o maior número possível de tapetes para o seu setup, e saiba que no dia que fizer um upgrade seja na cápsula, braço ou no toca-discos, provavelmente será interessante revisitar as opções de tapetes e ver se o atual ainda é a melhor opção.
A pergunta que mais escuto sobre este tema nos cursos é: “Andrette, o tapete que o fabricante de um toca-discos top coloca no seu produto já não é a melhor opção para sua performance?”
Às vezes sim, às vezes não.
Já testei toca-discos Estado da Arte que o tapete original se mostrou imbatível, e outras vezes, a troca do tapete melhorou ainda mais sua performance.
Isso ocorreu comigo agora para a produção deste artigo. Tanto o tapete como o clamp que vieram no nosso toca-discos de Referência, se mostraram inferiores a pelo menos duas opções que tínhamos à disposição no momento.
Elevando ainda mais a performance, tanto do toca-discos quanto da cápsula!
O original não é bom o suficiente? Claro que é. Mas o sumo do sumo deste setup se mostrou ainda mais impressionante com a substituição tanto do clamp quanto do tapete.
Então, mesmo em um toca-discos Estado da Arte, pode ser que existam opções que elevem ainda mais sua performance, ou não, deixando uma porta aberta a todos que desejam saber se a troca desses acessórios pode ou não beneficiar a performance final do seu aparelho.
Inúmeros fabricantes de toca-discos mais baratos ou chamados ‘de entrada’, disponibilizam tapetes de feltro, como é o caso da Rega, e de muitos outros fabricantes que utilizam pratos de vidro ou acrílico.
E muitas vezes esses tapetes nem sequer são antiestáticos, o que é um problema, pois a estática causa inúmeros ‘plocs’ irritantes, mesmo em LPs novos e bem conservados.
Então, meu amigo, se você não quer perder tempo em ouvir tapetes que melhorem a performance, mas os ‘plocs’ o incomodam, pense pelo menos em investir em um tapete de feltro da Record Mat, pois ele irá diminuir esse problema da estática.
E se ‘coçou a mão’ e deseja ouvir se o seu toca-discos pode render mais em termos de performance, eu indicaria ouvir o tapete da Zavfino (a versão de couro) e o Origin Live Platter Mat. Tenho o feedback de leitores que possuem aparelhos da Rega, que falaram de melhorias audíveis com ambos os tapetes.
No Reloop, que vem com um tapete de borracha e uma cápsula Ortofon Blue, o melhor resultado foi de longe, em termos de inteligibilidade e melhora no equilíbrio tonal, o uso do tapete original da Origin Live – Platter Mat, e o Zavfino versão de borracha, que é um pouco mais espesso que o de borracha original.
O Reloop não se deu bem nem com o Zavfino de cortiça, nem o de Feltro Anti- Estático Record Mat, e muito menos com o Hexmat Eclipse. E olhe que interessante, o prato do Reloop é de metal, e o motor direct-drive.
Passando para o MoFi Fender, mais sofisticado que o Reloop (e o dobro de preço), os três melhores tapetes em termos de melhorias significativas foram: Hexmat Eclipse em primeiríssimo lugar, seguido do Zavfino de couro, e o Origin Live – Platter Mat.
Novamente: feltro, borracha e cortiça deixaram o som difuso e confuso nas baixas frequências e na região média.
O MoFi Fender se mostrou bastante criterioso, tanto com os tapetes como com os clamps.
E com nosso Zavfino ZV11X, pudemos finalmente ouvir os dez tapetes e passar uma longa lista de discos com vozes, pequenos grupos, orquestras e diversos gêneros musicais, como: música instrumental brasileira, jazz, folk, rock, rock progressivo e música sinfônica.
Os tapetes de feltro, cortiça e borracha são proibidos, pelo visto, no Zavfino – qual a razão? Será o composite utilizado na produção do prato, que já é suficientemente eficaz em termos de ressonâncias?
Difícil cravar que seja este o motivo para feltro, borracha e cortiça deteriorarem tanto o resultado – lastimáveis, alterando até mesmo a resposta de transientes, corpo harmônico e inteligibilidade de gravações com pouquíssima informação (duo e trios).
Os tapetes que se destacaram no Zavfino foram: Origin Live Platter Mat e o novo Strata Multi-Layer Mat, Zavfino de couro e seu protótipo multicamadas, e os dois Hexmat: o Eclipse e o Absolute.
Aqui pudemos perceber o quanto os tapetes podem influenciar no resultado e trazer aquele algo mais que sistemas Estado da Arte propiciam.
Só que, quando falamos de toca-discos deste nível, temos que adicionar mais uma variável: o casamento com o clamp, pois este acessório pode somar ou dividir.
Mas essa questão abordaremos no próximo mês.
Para as observações dos tapetes no Zavfino, utilizamos vários clamps: nos Hexmat os clamps do próprio fabricante, nos tapetes da Origin o clamp da Origin (o modelo original, não este que acabou de ser lançado no exterior), e nos tapetes Zavfino o clamp que vem com o toca-discos.
O que posso dizer é que os tapetes desses fabricantes realmente tiveram melhor performance com seus respectivos clamps, o que de certa forma facilitará para muitos audiófilos que quiserem avaliar estes acessórios em seus sistemas.
Dos cinco tapetes avaliados no ZV11X, os que tiveram melhor performance foram: o protótipo multicamadas enviado pela empresa (que se mostrou ainda melhor na resposta de microdinâmica e silêncio de fundo que o de couro), o Origin Strata Multi-Layer Mat que possui uma apresentação dignamente detalhada e com um grau de inteligibilidade muito alto, e o Hexmat Absolute, que elevou o nível de performance do ZV11X e da nossa cápsula de referência a outro patamar de apresentação.
Melhorando até mesmo: foco, recorte, micro-detalhe, equilíbrio tonal e silêncio de fundo.
“Este resultado se repetiria em outros toca-discos Estado da Arte, Andrette?” Provavelmente parte das observações sim, mas não sei se todas elas, e muito menos na ordem de performance observada com o Zavfino ZV11X.
Pois os tapetes que tiveram melhor resultado nesse Setup de Referência, têm detalhes em sua fabricação que se assemelham no esforço de eliminar ressonâncias prejudiciais à leitura da cápsula – agora, como irão se comportar com diferentes toca-discos, é uma incógnita.
Portanto, a resposta é: só ouvindo para saber.
No entanto, arrisco dizer que um desses três (se não mesmo os três), podem ser o acessório que você tanto almeja para extrair o sumo final de seu setup analógico Estado da Arte.
Quanto aos toca-discos de entrada, minha sugestão são os tapetes mais simples aqui apresentados, levando em consideração o valor que o amigo deseja gastar e obviamente ouvindo em seu sistema para saber se trarão benefícios audíveis, ou não.
Perto de outros upgrades, tapetes são uma fração do custo que temos, por exemplo, com a troca de equipamentos.
E se der certo, o resultado vale todo nosso esforço!