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Teste 3: CABO DE CAIXA ZAVFINO SILVER DART
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Fernando Andrette
fernando@avmag.com.br

Se dependêssemos dos objetivistas ortodoxos, toca-discos e válvulas seriam peças de museu e de colecionadores saudosistas sexagenários!

Felizmente, para o mundo real audiófilo e melômano, a verdade é outra. E tanto os toca-discos, cápsulas e válvulas continuam a ser produzidos e consumidos em larga escala por gerações e gerações.

De onde vem este fascínio por tecnologias com um século de vida?

Os leigos, e as mídias não segmentadas, criam respostas bizarras como: o manuseio, os encartes, o cheiro, e montam um pacote ‘lúdico’ para explicar a sobrevida dessas topologias.

O que costumo dizer quando me perguntam, é que nada disso justificaria tamanha sobrevida, se não existisse o essencial: Performance!

É importante lembrar a todos, que a primeira válvula foi construída em 1904 por John Fleming. Dispositivo baseado na lâmpada inventada por Thomas Edson, em 1883.

E que na tentativa de fugir da patente de John Fleming, Lee Forest, na primeira década do século 20, fez algumas modificações, e criou a válvula triodo, que foi usada para a fabricação dos primeiros amplificadores.

A partir dessas mudanças, a válvula começou a ser produzida em grande escala, a partir de 1914, nos Estados Unidos, sendo utilizadas principalmente em telecomunicações na América e na Europa, durante a Primeira Guerra Mundial.

Com o final da Guerra, as válvulas ganharam modificações, com maior durabilidade e potência, com a possibilidade delas serem auto aquecidas.

E assim, novas válvulas começaram a aparecer, como a famosa PX-4, comercializada a partir de 1928. Com isso, os rádios da época deram um salto de qualidade sonora.

E, em 1924, surgiu nos Estados Unidos a Western Electric, que iniciou a fabricação de amplificadores lineares, para atender ao surgimento das gravações eletrônicas de áudio em discos de 78 RPM. E com a sonorização de filmes, um novo mercado de amplificadores e caixas para cinema surgiu.

Um novo ‘boom’ na criação de válvulas de maior potência e longevidade aconteceu. Como a 2A3 em 1932, e a 300B em 1938 (sim meu amigo audiófilo com menos de 40 anos, a 300B que você tanto admira e sonha em ter, existe a quase 90 anos). Além da 845 e da 211.

Aí os lançamentos foram se tornando cada vez maiores, com a introdução da duplo triodo 6SN7, lançada em 1941, e depois a 6L6 (KT66), com aquecimento indireto e a 6V6, de menor potência e mais frequentemente utilizada em rádios.
Após a Segunda Guerra Mundial, tivemos o lançamento em 1946 dos triodos duplos: 12AT7 (ECC81), 12AU7 (ECC82) e 12AX7 (ECC83), que melhoraram significativamente a performance dos amplificadores valvulados, com menos distorção e longevidade maior que 10 mil horas de uso.

Na década de 50, com o surgimento dos LPs e do Estéreo, novas e mais potentes válvulas surgiram, como: EL34 (6CA7) e EL84 (6BQ5) em 1953 – duas novas válvulas capazes de fornecer, em pares, 25 Watts na configuração push-pull Classe A, algo inimaginável com todas as válvulas produzidas anteriormente.

Já em 1957, surge a primeira válvula tetrodo de feixe, a KT88, também na configuração push-pull, com 40 Watts por canal em Classe A, também em pares.

Com o advento do transistor, na década de 60, ainda assim foram lançadas as KT120 e KT150, dando fôlego suficiente para que inúmeros projetistas continuassem a desenvolver amplificadores, prés de linha, de phono e outros, utilizando válvulas e atendendo a consumidores que ainda se encantam com esta sonoridade.

E todo audiófilo e melômano que escolhe ter um componente valvulado em seu setup, sabe que é possível realizar upgrades, mudando a assinatura sônica do sistema apenas substituindo válvulas.

E as válvulas NOS (New Old Stock), produzidas nos anos dourados (de 1930 a 1970), de grandes fábricas dos Estados Unidos e da Europa, como: RCA, Mullard, Telefunken, GE, Amperex, Siemens, Philips e Sylvania, são o sonho de consumo de legiões de audiófilos, que aceitam pagar preços ‘salgados’ na esperança de dar ao seu sistema aquela assinatura tão sonhada.

O problema é que comprar uma válvula NOS, é uma caixa de pandora – onde há a procedência, maneira como estava estocada, os altos custos (uma válvula NOS pode custar até 10 vezes mais que uma válvula em fabricação atual), e o crescente mercado de falsificação de válvulas.

Foi pensando nesses problemas, que um grupo de engenheiros, liderado por Nelson Wu, fundou em Oakland, nos Estados Unidos, a Ray Tubes, uma empresa que tem como objetivo criar válvulas com performance comparável à das NOS, mas sem o problema de confiabilidade, com facilidade de reposição, garantia de 12 meses e preço realista.
As séries Select e Reserve da Ray Tubes, são desenvolvidas e fabricadas especificamente para o mercado de áudio high-end, e os pilares destes projetos são consistentes, visando essencialmente a mais alta performance possível.
Para isso, os cuidados vão desde o desenho nos projetos mecânicos até a criteriosa seleção de materiais, obtidos por um inédito conjunto de processos de produção e controle de qualidade.

A Ray Tube dedica o dobro do tempo das fábricas tradicionais para criar o vácuo de cada válvula, e inspeciona uma a uma à procura de microfissuras. Todas as soldas entre os elementos internos e os pinos são supervisionadas, antes de serem embaladas, por microscópio.

Esses cuidados reduzem a velocidade de produção (aumentando seu custo), mas garante uma performance de nível superior às similares concorrentes.

Uma válvula Ray Tube passa por seis níveis de qualidade: todas são submetidas a um período de burn-in de 24 horas, para estabilização dos componentes e verificação de possíveis falhas na produção, e são testadas antes de serem embaladas.

Consistência de parâmetros medidos, como corrente de placa. Além de testes de stress mecânico e verificação de microfonia, e sendo submetidas a instalação em equipamentos, para uma avaliação auditiva.

E, por último, são escolhidos aleatoriamente em um lote, válvulas para audições críticas, e caso exista algum problema, todo o lote será verificado.

Enquanto que na série Select, é aplicada uma criteriosa seleção entre os dispositivos produzidos e apenas uma ínfima parcela de válvulas passa por esta ‘seleção final’, na série Reserve a abordagem é diferente: toda a produção é feita em pequenas quantidades, os materiais utilizados são sempre de extrema pureza, os tempos gastos em todo o processo são exponencialmente maiores e até mesmo o formato das válvulas foi redesenhado para a obtenção da melhor performance térmica possível.

Nesta série é também aplicado o que a Ray Tubes chama de Magic Coating, uma camada de carbono monocristalino que melhora o fluxo de elétrons, ajuda na dissipação de calor e bloqueia ruído.

O objetivo da Ray Tubes é obviamente ser comparado com os melhores exemplares NOS ainda hoje comercializados.
Eles alcançaram seus objetivos? Vamos saber agora.

Para o teste recebemos as seguintes válvulas: 12AT7, 12AU7, 12AX7 da série Select, e EL34 da série Reserve.

As válvulas substituíram as minhas NOS, que uso no Nagra TUBE DAC e no pré de linha Nagra Classic. E as EL34, usei no power da Air Tight ATM-1E (clique aqui).

Quem me acompanha faz um bom par de anos, vai lembrar que eu fiz uma peregrinação intensa uns três anos atrás, na busca por válvulas NOS para serem comparadas às válvulas originais que a Nagra fornece em seus equipamentos.
E na época eu vasculhei o mercado com a ajuda do Fábio Storelli, do Ricardo Monteiro e do projetista da Alstech, André Luiz Rodrigues. E consegui válvulas da General Eletric (produzidas nos anos 50), Telefunken (também dos anos 50), Zaerix inglesas (dos anos 60), e RCA (também dos anos 60). E as mais caras, as GE casadas, produzidas em 1968, e que deram o melhor resultado sonoro no pré de Linha Classic, mas que não substituíram as originais do TUBE DAC. E custaram quase que 1000 dólares na época! E vieram em uma embalagem cheia de etiquetas coladas e recoladas, e todas as informações escritas à caneta!

Felizmente essas válvulas funcionaram a contento sem dar problema por um longo período.

O que mais me impressionou quando as Ray Tubes chegaram, foi o primor da embalagem, uma caixa com tampa magnética e as válvulas devidamente asseguradas por uma espessa espuma e um certificado de garantia (12 meses) e um cartão com o número de série, nome do técnico que fez os testes e data de finalização e embalagem do produto.

Para o teste usei o seguinte procedimento: voltei a colocar no Nagra Classic as válvulas originais, com as quais o produto sai de fábrica, e ouvi 10 faixas da Metodologia.

Depois coloquei as GE NOS que passei a usar no Classic, repassei as 10 faixas, e finalmente coloquei as Ray Tubes Select (apenas no pré de linha, mantendo a válvula original no TUBE DAC, para não ter impressões errôneas das mudanças).

O sistema usado foi o nosso de Referência.

Primeiro, foi um choque voltar a ouvir as válvulas originais depois de tanto tempo. Pois pareceram mais nervosas e com maior transparência que as GE NOS. Fiz uma série de anotações muito pertinentes a respeito desta volta às válvulas que vêm com o Nagra Classic.

Voltei às GE NOS para mais anotações, coloquei as Ray Tubes, e deixei por 24 horas amaciando.

As diferenças em relação às válvulas originais são muito significativas. Pois a transparência das Ray Tubes não é por ser mais aberta, e sim por um significativo silêncio de fundo muito maior e efetivo.

O exemplo mais contundente foi do pianista Claudio Arrau tocando Debussy, em uma soberba gravação Philips em que a respiração do pianista é muito mais evidente, mas não incomoda, pois o piano também se mostra mais presente, tanto em termos de peso na mão esquerda, como no corpo do instrumento. Sem falar na riqueza harmônica do instrumento, que enobrece o timbre e a digitação do pianista.

Em relação às GE NOS, as texturas foram mais semelhantes, assim como o corpo do piano. No entanto, a respiração, assim como a inteligibilidade do instrumento nas Ray Tubes, foram muito superiores!

Em resumo: no Nagra Classic, o upgrade foi consistente, em qualquer dos oito quesitos de nossa Metodologia, fazendo com que o Pré tenha ganho entre 1 ponto e 1.5 ponto a mais em sua performance final. Tornando-se impossível voltar atrás ou perder tempo em novas possibilidades de assinatura sônica.

As pontas têm maior extensão, com agudos mais refinados, graves com maior energia e fundação, e médios com um grau de inteligibilidade ainda mais presente.

O soundstage é mais profundo e largo, e o foco e recorte muito mais precisos.

As texturas, ainda que tenham tido a menor diferença para as válvulas anteriores, o adicional silêncio de fundo ampliou ainda mais a percepção das intencionalidades das gravações.

Transientes com precisão cirúrgica permitem uma apresentação de tempo e ritmo contagiantes.

E a dinâmica, tanto a macro quanto a micro, são apresentadas com enorme folga e conforto auditivo, permitindo ouvirmos as gravações no limite dos volumes estabelecidos na mixagem.

Não vou ser redundante ao citar o corpo harmônico, pois já relatei a mudança que ocorreu no exemplo da gravação do Claudio Arrau, mas é importante dizer que essa melhora neste quesito, tornou as gravações que têm excelente corpo, ainda mais prazerosas.

E materializar o acontecimento musical (organicidade) se tornou algo corriqueiro usando as Ray Tubes.

Musicalmente, o resultado é o melhor possível: maior inteligibilidade com menor fadiga auditiva! Não é exatamente o que buscamos para os nossos sistemas por toda uma vida?

Eu fico imaginando o dia que a Ray Tubes lançar, para a série 12, a versão Reserve, qual o nível de performance será possível!

O próximo passo foi substituir a válvula no TUBE DAC.

A soma de ambos os Nagras com as Ray Tubes, foi magistral!

Pois nada desandou, pelo contrário: o sistema de Referência como um todo se tornou ainda mais sedutor e impactante.

A sensação é que o sistema agora possui mais folga e controle dinâmico. Sem jamais soar com a ‘faca entre os dentes’ quando a música não tem essa necessidade. Usando-a apenas quando exigido!

O resultado é que nosso cérebro interpreta essa assinatura de maneira ainda mais relaxada e convidativa a longas audições.

Minha pergunta, ao receber as válvulas EL34 série Reserve, era o quanto elas podem ser ainda mais impactantes que a série Select.

Quem não leu o teste do Air Tight ATM-1E (clique aqui), sugiro que leia. Pois eu amei este pequeno notável.
Sua assinatura sônica nos convida a esquecer o mundo lá fora, e nos aprofundarmos na música que amamos. E nada dessa ‘magia’ se perdeu.

Com as Ray Tubes, diria que o círculo que parecia perfeito, se tornou ainda mais preciso. Apenas isso.

Em amplificadores valvulados, o silêncio de fundo traz um componente novo ao nosso cérebro, que está acostumado a amplificadores transistorizados. E com o diferencial do calor e de um timbre mais próximo ao de uma apresentação ao vivo.

Cordas, sopros e vozes parecem ganhar o calor de uma apresentação humana, que nosso cérebro reconhece de imediato.

E as Ray Tubes série Reserve exploram essa qualidade de maneira impactante e comovente!

Difícil escutar Yumi Ito – Little Thing (leia Playlist nesta edição), e não se encantar com a interpretação, modulação de sua voz e a carga emotiva que ela coloca intencionalmente no piano.

No caso do ATM-1E, as melhoras mais significativas foram justamente na apresentação das texturas, macro-dinâmica e transientes.

Interessante, não? Como cada equipamento irá ressaltar determinados quesitos, levando à mesma conclusão nos equipamentos Nagra: torna-se impossível voltar atrás!

Se você pretende adquirir o maravilhoso ATM-1E, saiba que ele pode ficar ainda mais completo com o upgrade para as EL34 série Reserve da Ray Tubes.

O investimento merece cada centavo!

CONCLUSÃO

Fico imaginando o que essa série de válvulas de potência Reserve da Ray Tubes, pode fazer pelos amplificadores que utilizam KT88 e 300B.

Se você possui amplificadores com essas válvulas, eu indico que faça o upgrade. Pois a surpresa pode ser tão grande, quanto foi a minha!

São altamente recomendadas, e arriscaria dizer mais: um upgrade totalmente seguro e satisfatório!

Série Select

12AU7 - R$ 1.600

12AT7 - R$ 1.600

EL34 - R$ 1.400

KT88 - R$ 1.600

300B - R$ 3.400

Série Reserve

EL34 - R$ 3600

KT88 - R$ 4200

300B - R$ 8600

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