

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Equipamentos Vintage que fazem parte da história do Áudio
O termo Vintage tem a ver com ‘qualidade’, mais do que ‘ser antigo’. Vem do francês ‘vendange’, safra, sobre uma safra de um vinho que resultou excepcional. ‘Vintage’ quer dizer algo de qualidade excepcional – apesar de ser muito usado para designar apenas algo antigo.
Nesta série de artigos abordamos equipamentos vintage importantes, e que influenciam audiófilos até hoje!
MADE IN JAPAN
As empresas de áudio ‘consumer’ japonesas ganharam tanto dinheiro tomando o mundo – e pondo pelo menos um aparelho de som por casa na Via Láctea inteira – nas décadas de 70 e 80, que acabaram não só por desenvolver produtos muito especiais, em tiragem limitada (proposital ou não), como também tiveram uma longa série de ideias de tecnologias fenomenais em áudio.
Uma delas foi – ainda que sempre em atraso com as reações e necessidades do mercado – a criação pela Sony de uma espécie ‘hi-end’, quase audiófila, de um CD-Player portátil.
O CD PORTÁTIL SONY DISCMAN D-Z555 / D-555
Confesso que resolvi escrever sobre o D-Z555 em parte porque acho o CD portátil mais bonito que já foi feito, cheio de luzinhas e botões – uma aparência de filme de ficção científica (memórias afetivas de devorar todas as revistas de áudio na década de 80…).
Curiosamente, meu primeiro CD foi um modelo de Discman um pouco abaixo desse, da mesma linha, o D-25, também com gabinete feito em alumínio – bonito, sólido, bem construído e ‘inquebrável’, expressando muito bem os vários equipamentos de alto padrão que os japoneses produziram em sua época áurea.

Na década de 70, um dos fundadores da Sony, Masaru Ibuka, queria um tocador de fitas cassete portátil, para pendurar na cintura e ouvir música na rua ou em viagens, mas que fosse estéreo e com alta qualidade sonora. O departamento de engenharia da empresa pegou o pequeno gravador mono para voz, usado inclusive nas missões Apollo da NASA – que foram à Lua – e fizeram um dos primeiros milagres de miniaturização da indústria eletrônica nipônica. Com o nome de Walkman (‘Homem que Anda’, em tradução livre feita para a minha própria piada), era de se esperar que, quando o CD adquiriu uma mínima popularidade na década seguinte, a miniaturização levasse à criação, pela mesma inovadora Sony, de um tocador de CD portátil de alta qualidade. E que o departamento de marketing, ‘logicamente’, o chamasse de Discman – ‘Homem que Compra Discos Demais’, ainda em tradução ‘livre’… e é nesta hora que esposas de audiófilos e melômanos soltam uma risada curta, seca e um pouco sarcástica… rs!
A Sony, claro, depois passou a chamar o Discman de CD Walkman – e usa a marca Walkman até hoje em seus players digitais portáteis. Mas, até hoje, todo mundo que eu conheço chama o CD portátil de Discman.
O primeiro Discman foi o semi-feioso D-50, de 1984 – que pulava tanto que detectava tremores de terra com duas horas de adiantamento – foi o fruto de mais de um ano de desenvolvimento do “CD CD Project”, que quer dizer “Compact Disc Cost-Down Project”, cujo intuito não era só a miniaturização, mas tornar o produto acessível (lição aprendida com a absurda popularidade do Walkman cassete e de suas cópias) e também diminuir o consumo de energia do leitor, para que a pessoa não precisasse trocar as pilhas uma vez a cada 15 minutos.

No final dos anos 80, avanços como dual-chip DAC e o oversampling, chegaram ao CD, ostensivamente procurando prover qualidade sonora superior – mas o Discman, considerado ‘popular’, ficou para trás. Com a linha que iniciava os anos 80, a Sony resolveu atualizar o Discman trazendo o D-Z555 – chamado de D-555 no Japão – que incorporava todos os recursos técnicos aplicados então aos CDs ‘de mesa’, como o oversampling de 8 vezes, e o duplo chip de DAC 16-bits PCM66P da Burr-Brown.
Isso além de equalizador gráfico digital de 5 bandas com analisador de espectro no segundo display LCD, no topo do aparelho, e efeitos via DSP – que são, ao que consta, os primeiros a serem disponibilizados em um produto comercial – como o boost de graves e outros. E ele ainda trazia uma saída óptica digital, o que permitiria que ele hoje funcionasse como transporte de CD, mas na época era para ligá-lo diretamente em gravadores DAT, por exemplo.

O D-Z555 era, com certeza, um produto de luxo, com tecnologia embarcada e construção impecável.
Hoje, um D-Z555 ou D-555 usado, funcionando, revisado, em perfeito estado e com os acessórios, está chegando a preços entre 1500 e 2000 dólares no mercado de usados, no exterior. Ou seja, é um belo objeto de coleção, mas sabe-se que sua manutenção é bem difícil, inclusive pela falta de peças de reposição, então existem muitos desses aparelhos que já foram condenados, por aí ocupando gavetas.
MODELOS SEMELHANTES
O Sony D-Z555 foi um aparelho único – principalmente porque daí para adiante, aconteceu com o CD de ficarem mais populares tanto os discos quanto os aparelhos, com a tecnologia tornando os portáteis melhores e bastante mais leves e baratos. E, pouco tempo depois, com a chegada da Internet e do download de MP3.
Ou seja, o CD-Player portátil não evoluiu para o lado de maior sofisticação – pelo contrário. E nunca foi um tipo de aparelho que gerasse grande interesse no mercado audiófilo.
COMO TOCA O D-Z555 / D-555
Procurar trazer o melhor tecnologicamente, de sua época, não chega a ser hoje um grande cartão de visitas para um CD-Player – pois essa é a época da pior sonoridade dos aparelhos de CD, onde eles soavam o seu mais artificial, fatigante e seco.
Um articulista da área de áudio uma vez disse que o CD trouxe ao público médio um som muito além do que esperavam e estavam acostumados, com extrema clareza de agudos e detalhes (graças a seu silêncio de fundo e à resposta superior aos padrões mais populares de então, como rádio e fita cassete) – daí muito de seu sucesso. Porém, comparo isso com por um óculos poderoso, com lentes cristalinas, e usar fortes holofotes, para ver um mundo feio, sujo e todo de plástico.
E é certo que a maioria dos bons Discman da década seguinte, tinham Qualidade Sonora melhor por um preço mais em conta.
SOBRE A SONY
A gigante Sony todo mundo sabe quem é. Além de ter co-criado o CD – junto com a Philips – entre várias outras tecnologias da história do áudio mundial, a Sony teve enorme presença nos vários níveis do mercado de áudio consumer, especialmente durante as décadas de 70 e 80.
E ela continua por aí! Porém, hoje, sua presença é maior na área de fones de ouvido.
Bom setembro – e não deixem a música parar!