Obituário: FLÁVIO ADAMI:UM VERDADEIRO GENTLEMAN

Fernando Andrette
fernando@avmag.com.br

Se nos imortalizamos pela lembrança de nossos entes queridos e familiares, certamente o querido amigo e colaborador por duas décadas, Flávio Adami, merece todas as homenagens que a ele possam ser prestadas.
Conheci o Flávio Adami em um Curso de Percepção Auditiva que realizei na loja Raul Duarte, em 1994.

Ao final do curso, ele se apresentou e conversamos longamente sobre música instrumental brasileira e como era lamentável tantos discos artisticamente importantes serem tão tecnicamente limitados.

Daquele primeiro encontro, dois anos depois o convidei para se tornar um colaborador na revista Clube do Áudio, e foi um movimento natural de duas pessoas que se respeitavam e viam a necessidade de termos na revista colaboradores com amplo conhecimento musical.

Flávio Adami, para quem não sabe, foi um excelente violonista e aluno do saudoso Paulinho Nogueira. O que o credenciou não só a se tornar um excelente colaborador para a avaliação de equipamentos de áudio, como também a nos emprestar seu conhecimento musical, para que todos na redação se lembrassem da importância de se ter como referência absoluta a música ao vivo não amplificada.

Além de muito culto, tinha uma capacidade ímpar de ser um grande apaziguador de discussões acaloradas, tão costumeiras em círculos audiófilos.

Foi junto com outro querido amigo e editor técnico desta publicação, Victor Mirol, defensores desde o primeiro instante da implementação de nossa Metodologia, para avançarmos na linha editorial da revista e darmos consistência às análises mensais publicadas.

Minha maior lembrança do Flávio eram suas ligações na entrega de suas avaliações, em que ele me passava detalhes minuciosos de suas observações do produto. E mesmo com aqueles que tinham audíveis limitações, ele tinha um cuidado e uma condescendência enorme, pois sempre fazia questão de dizer que por detrás de qualquer projeto, existe o elemento humano.

Nunca presenciei o Flávio Adami, em mais de três décadas de convivência, se alterar, levantar a voz, ou se indispor com quem quer que fosse.

Sempre em suas chegadas o que se via era um largo sorriso no rosto, mostrando toda sua gentileza e prazer em estar compartilhando suas impressões e observações sobre música, equipamentos ou shows que havia assistido.

O nosso mercado precisa de mais pessoas como ele – seres generosos, sensíveis e cultos!

Que todos que o conheceram e tiveram a oportunidade de conviver com ele por 76 anos, prestem homenagem, mantendo o que de melhor ele nos deu, vivo, em nossas lembranças.