Opinião: ORQUESTRA AO VIVO? SIM, ISSO MELHORA MINHA AUDIÇÃO!

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5 de agosto de 2025
HI-END PELO MUNDO
5 de agosto de 2025

Christian Pruks
christian@avmag.com.br

E eu sempre fico pensando: “que audiófilo não quereria melhorar sua audição?”…

Claro que não é só orquestra – é toda música acústica ao vivo, não amplificada, e ouvida presencialmente, cujo costume e compreensão fazem com que a sua qualidade da audição melhore substancialmente. Só que a orquestra é mais completa, com uma enorme riqueza de timbres, texturas, corpo harmônico e dinâmica – para dizer o básico.
E essa riqueza, bastante superior à maioria esmagadora da música amplificada, e da música eletrônica, e da música altamente manipulada, não é uma questão de ‘gosto pessoal’, e sim algo cientificamente provado.

E não dá para entender a ‘alergia’ que as pessoas têm à isso, já que não tem um que, ao experimentar comida caseira, feita com ingredientes naturais da mais alta qualidade, não prefira essa ao usual da comida multi-processada. Então, deve ser turrice mesmo no duro.

OK, OK… tem a questão do gosto pessoal. Como não fui criado com jazz, não tenho esse gênero como o principal no meu gosto pessoal, e tem muito disco (e músico) famoso de jazz que eu acho uma chatice sem tamanho. Assim como, sendo um amante de música clássica, cometo algumas ‘blasfêmias’ que facilmente me fariam ser excomungado do mundo adorador desse gênero musical – onde tem, sim, um bocado de esnobes.

Uma que eu digo que geraria horror, é que tem compositores muito famosos que eu acho uma chatice fora do comum, assim como jamais vou adorar a obra completa nem dos meus compositores preferidos, porque todos eles têm obras que provocam perguntas como: “por que ele não foi assistir televisão esse dia, em vez de compor isso?”.

Bom, provavelmente porque não existia televisão na época dele – mas tinha uma série de outras possíveis atividades, como capinar um lote, por exemplo… rs!

Esses ‘deuses’, considerados gênios por muitos, jamais poderiam ser ofendidos… E a crítica de música clássica é uma das coisas mais estranhas que existe no mundo da música: cada um fala uma coisa e enxerga uma coisa que nenhum outro enxerga.

Acho que já falei, por exemplo, de um crítico que diz que ‘tal e tal’ são as melhores gravações de uma obra porque o regente obtém dos metais algo diferente das outras gravações (e que ignora todos as outras dezenas de aspectos que podem ser analisados sobre aquela gravação, aquela execução por tal orquestra) e, por outro lado, detesta (e é apoiado por muitos!) a gravação que eu considero a melhor de todas de uma sinfonia de um compositor russo, porque durante um par de minutos (dentre os 40 minutos totais da sinfonia), o regente (quase que um ‘genocida’ na opinião deles) preferiu abaixar um pouco a intensidade pedida pelo compositor na partitura – e olha que eu passei a vida inteira ouvindo essa gravação e achando que esses dois minutos eram umas das grandes e melhores apoteoses sonoras e musicais de toda a música clássica!

Desculpem, mas isso não presta nenhum serviço para ninguém, seja entendido, seja um iniciante interessado.

Em vez de ver apenas um aspecto dentre dezenas, para cada sinfonia que eu gosto, por exemplo, eu ouvi 20 ou 30 gravações diferentes – ou seja, com orquestras e regentes diferentes – até achar a que ‘eu’ considero a melhor, e isso depois de me informar bastante sobre a parte técnica de uma orquestra sinfônica e sobre o compositor, seu período na história e sua cultura, entre outros. E, ainda assim, o máximo que eu faço é ‘sugerir’ tal disco, e esperar que aquilo toque a pessoa que se interessou em ouvir.

Gosto um bocado de discos ao vivo e vídeos de apresentação ao vivo – e acho interessante aquela velha máxima que diz “quem sabe, faz ao vivo”. Quer saber se um conjunto é realmente bom, se a música que fazem é coerente e bem feita? Vá ouví-los ao vivo – e te falo: a maioria da música rock e pop não toca bem ao vivo, e aí você percebe o quanto uma gravação é manipulada enquanto é montada, quase que nota por nota, acorde por acorde, dentro do estúdio.

Além disso, no jazz, por exemplo, que é o gênero mais ‘querido’ do mundo da audiofilia formal, tem muito disco que eu ouço e penso: “os únicos que estão curtindo isso são os próprios músicos que estão tocando”… hehehe…

Mas, já fugi muito ao assunto principal… Voltemos a ele:

A média e longa exposição à esse tipo de acontecimento musical, cria sinapses, cria memória de longo prazo – e não adianta o povo do “teste cego”, do “placebo”, do “o cérebro humano é facilmente enganável” e afins, espernear, porque é uma questão já provada pela ciência (quem discorda, pode ir discutir com a Neurologia).

E outra coisa que também prova completamente a criação e uso da memória de longo prazo: a voz da mãe do pai, inconfundíveis, o barulho de um caminhão, de um avião, etc – que todos têm gravado na memória de longo prazo e, até, sabem se o caminhão é o de frutas e verduras, ou se o caminhão é o de ovo (que ambos passam semanalmente na sua rua e um é maior que o outro) por causa da média e longa exposição e, consequente, criação de sinapses. E aí tem audiófilo que ouve alguns segundos de um disco que não conhece, em um sistema, em um teste cego, e não mensura as diferenças por causa disso, e depois vêm e falam que é tudo placebo. Eu digo que, para alguns desses, é melhor passar para o hobby do colecionismo de tampinhas de garrafa.

Imaginei agora um monte de odiadores de orquestra, de música clássica, fazendo uma emboscada na porta da minha casa com tochas e ancinhos!

“Enforca o gordo! Enforca ele na primeira árvore!”

“Quem ele pensa que é para sugerir que eu ouça essa coisa horrorosa!”

Esse é um dos problemas, não é? Sequer sugerir para alguém que essa pessoa esteja ouvindo errado, é extremamente ofensivo, me parece. O audiófilo sente-se diminuído se você mostrar que ele está errado ou em falta – e já as pessoas que aprendem, crescem e melhoram, vêem isso como uma oportunidade de se corrigirem.

Se alguém me mostra algo que eu não sei sobre áudio e sobre música, eu tenho mais voracidade de aprender aquilo e melhorar minha experiência, expandir meus horizontes e compreensão, do que criança em buffet de sorvete por um preço só… rs! Incluindo seis tipos de coberturas!

Sugerir, então, que um audiófilo tenha algo a aprender e melhorar, é no mesmo nível de ‘mal puro’ que por sal na Nutella, ou feijão no pote de sorvete de chocolate.

“Quem é você para me ensinar algo?!?”- e sim, eu já ouvi essa frase. Uma resposta arrogante do meu lado seria: “Alguém que sabe mais do que você sobre esse assunto”. Mas a resposta cabível, e certa, seria: “Alguém que sabe algo que você não sabe”. Mas será que o audiófilo percebe essa diferença?

Será que o audiófilo quer aprender e melhorar? Ou só quer validação para aquilo no qual ele já acredita, e acha que é incontestável? E essa é uma das piores características do ser humano, na minha opinião.

Nas minhas ‘andanças’ diárias por comunidades, grupos de discussão e fóruns sobre áudio e música na Internet, é fácil ver quem são os que não aprenderam, não querem aprender, ou buscam só validação daquilo que acham que sabem, e que consideram imutável. E o mais triste da falta de diálogo e de humildade, é que esses têm também experiências e ideias que outros poderiam aprender. Muitas ideias, trazidas por participantes dos tais fóruns, são recebidas com escárnio (a risada típica de quem não entende de nada, mas acha que sabe tudo).

Enfim, acho bizarro ter inúmeras vezes encontrado audiófilos resistentes a ter Referência de música real, e um dos piores espelhos disso é a música de má qualidade sonora tocada em muitas feiras de áudio (e showrooms) – e o quanto isso é propalado por vários ‘especialistas’ como algo que tem que ser feito mesmo, onde o gosto do audiófilo (ego) supera a necessidade de se avaliar, regular e escolher os melhores sistemas, equipamentos e acessórios.
E, portanto, as duas justificativas principais dadas para não se ir assistir um concerto de música orquestral (e consequentemente afinar seus ouvidos e melhorar sua percepção) são, acredite: “não gosto de música clássica”, e “não acredito que preciso afinar meus ouvidos”, sendo esta última dita com vários tipos de palavras diferentes, dentro de um contexto de que “cada um escuta diferente”, uma balela que, com o uso de educação auditiva e referência, já foi derrubada, mas da qual um monte de audiófilos parece usar com escudo, entre outras coisas.

Fui, agora em julho, assistir alguns concertos selecionados, de vários grupos orquestrais, como parte do Festival de Inverno de Campos do Jordão, no auditório da tal cidade serrana do Estado de São Paulo. O Festival está em sua 55a. edição, e é bem tradicional – mas sua programação tem anos melhores, e anos piores.

No Auditório Cláudio Santoro (cujas fotos ilustram esta matéria) tivemos em julho pelo menos meia dúzia de concertos dignos de nota. E, enquanto curtia a música, e afinava meus ouvidos, ou mesmo dialogava com minha criança interior nos intervalos das obras, tive algumas reflexões sobre o quão fora dos vícios auditivos da maioria das pessoas, é a Música de Verdade, Acústica.

São, basicamente, 5 aspectos que as pessoas ouvem errado em seus sistemas, quando não têm Referência de música real – e muitos dos que ouviram uma orquestra, entenderam e, portanto, aprenderam o que fazem errado.

Antes de mais nada é preciso entender que, se seus sistemas forem escolhidos e regulados para tocarem música real acústica o mais próximo do jeito que ela é, ao vivo, daí seus sistemas tocarão todos os outros tipos de música com mais clareza e correção, com maior Qualidade Sonora.

São os 5 erros:

Chamar “brilho” de Clareza – E achar que com esse brilho maior, o qual é artificial, vem um maior detalhamento, quando na verdade é a Qualidade Sonora e resolutiva do sistema que traz um maior detalhamento. Isso se vê claramente em uma orquestra, onde há a perfeição do detalhamento e da luz sobre os instrumentos e sobre o todo, sem haver quase que brilho algum, principalmente se comparado com a maioria dos equipamentos de som.

Chamar “detalhamento ostensivo e artificial” de Textura e Timbre – Isso é a adoração a ter algo ‘a mais’ que o mundo real. Aqui me lembro de alguém que foi ver uma orquestra sinfônica de renome internacional, em um auditório de altíssimo nível, e diz preferir seu sistema, onde consegue ouvir o violinista como se estivesse dentro da sala de sua casa.

E isso é uma grande distorção de valores, porque a obra foi composta para ser ouvida no ‘todo’ da orquestra e à alguma distância (para que se entenda e perceba o ‘todo’), assim como esses instrumentos foram concebidos dessa maneira. É como preferir uma planta de plástico, e ainda acreditar que ela é superior.

Chamar “excesso de grave amplificado” de Corpo Harmônico – O mundo está mais acostumado a ouvir uma bateria ou baixo, por exemplo, amplificados e bastante alterados, ‘turbinados’ no estúdio, e complementados pelo uso indiscriminado de subwoofer e de equalizadores. A busca parece ser sempre por ‘mais grave’ e não por ‘melhor grave’.

Isso, claro, se dá por desconhecimento, por falta de Referência – o que me lembrou de um comentário que ouvi durante o intervalo de um belíssimo concerto de uma orquestra sinfônica, onde um amigo pergunta ao outro: “E ai, gostou?”, e o outro responde “Gostei muito, mas achei o som muito baixo”… Essa estupidez é enlouquecedora para mim, pois aquilo é o mais Real de música que existe, então a afirmativa do sujeito é o equivalente a dizer que por-do-sol de verdade “não é amarelo o suficiente”, ou “a grama do estádio de futebol não é verde o suficiente”, ou “o azul do céu é muito mais legal na tela do meu computador”. São casos do mundo ter que ter alguma obrigação de se adaptar às pessoas…

Chamar “o irreal exagerado e turbinado” de Equilíbrio Tonal – Esse é como o que falou que o volume da Realidade era ‘baixo demais’, ou outro que disse que dentro de uma sala de concertos “falta agudo” (mesmo ele ouvindo todos os detalhes possíveis e imagináveis naquele contexto que o ouvido mal acostumado dele chamou de falta de agudo).
Gente, a Realidade é o certo! Não o que é tocado em um sistema de áudio após profundas alterações do conteúdo e da Qualidade Sonora.
Chamar “volume de som” de Dinâmica – Esse é bem antigo, onde confundem mesmo a habilidade de tocar alto com ‘dinâmica’, quando na verdade o significado dessa característica do som é: o contraste entre os sons altos e os sons baixos. Veja, essa é fácil de entender, pois variação dinâmica é algo que existe na natureza de nosso dia-a-dia, na diferença entre fechar uma porta com um impulso e bater ela com força, na diferença entre essa porta batendo e uma bomba explodindo (que em gravações dos efeitos sonoros de um filme, e sua subsequente reprodução em um sistema de home-theater, mostram uma variação pequena e irreal, ou seja, com compressão dinâmica pacas).

Acontece que a dinâmica, quando comprimida, prejudica a qualidade sonora na medida em que isso traz uma perda de inteligibilidade em passagens com altos volumes, criando um embolamento que impede você de perceber detalhes, e que ‘afoga’ instrumentos da música que você está ouvindo, além de diminuir o impacto real daquele instrumento.

Seu sistema de som, na sala da sua casa, tem uma dificuldade tremenda de reproduzir a variação dinâmica real de uma orquestra, com clareza e em volumes realistas. É só ver a imagem de um decibelímetro usado durante a apresentação de uma orquestra (na última fileira no fundo do auditório, aliás), que mostra uma medição de apenas alguns minutos onde o mínimo volume de som é de 70dB, a média é de 90dB (um sistema caseiro tocando ALTO), e os picos são de 105 a 115dB, coisa que muitos sistemas são incapazes de reproduzir com naturalidade, ou simplesmente nem conseguem.

O uso de um compressor durante o processo de gravação, mixagem e masterização de um disco, faz aproximar esses valores de 70 e de 115 um do outro, ‘comprimindo’ essa variação de volume, dando a impressão de um volume de som mais alto durante toda a música porque o ‘baixo’ fica mais ‘alto’. O preço, em matéria de perda de Qualidade Sonora, é alto demais para quem quer naturalidade e o verdadeiro Realismo (ou o mais próximo disso em que podemos chegar).

Compreender o que é Qualidade Sonora nesse contexto todo acima, não impede a pessoa de escolher nunca ouvir esse tipo de música na casa dela, no sistema dela, simplesmente porque não gosta dessa música. Mas faz com que ela perceba Qualidade Sonora de um jeito mais profundo e informado, e assim escolha seus equipamentos, seus upgrades e como regular e obter o melhor de seus sistemas, com a melhor qualidade sonora em tudo.

De novo, e como sempre, dúvidas, críticas, desacordos, considerações e tomates podres voadores: christian@avmag.com.br.

E não deixem o ‘cachorro-louco’ ficar com o Agosto todo para ele – ouçam bastante música!

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