

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Uma seção mensal só sobre Toca-Discos de Vinil
Talvez as coisas não tivessem tantos ‘mitos & lendas’ se as pessoas passassem menos tempo procurando pelo em ovo. Ou, no áudio, passassem mais tempo ouvindo do que acreditando em teorias e pseudo-fatos.
Reuni aqui algumas ideias que vejo difundidas, mas que não são realmente muito corretas, sobre o analógico com discos de vinil, e que parecem ser, a cada ano que passa, sempre repetidas – seja por gurus, seja pelo marketing da indústria do áudio, seja porque é mais um mito, ou mais uma lenda, que se solidificaram pela repetição.
ANALÓGICO DE QUALIDADE É CARO? – A resposta é sim, e não, ao mesmo tempo. O que é ‘barato’ em matéria de toca-discos de vinil bom hoje, pode ser caro para muita gente, ou para a ideia que muita gente tem. “Ah, mas tem toca-discos baratos bem-conceituados” – porém esses têm limitações, não têm para onde crescer, principalmente gastando-se pouco.
Dos super-baratos, o LP60X (aprox. US$200 nos EUA) da Audio Technica costuma ser conceituado, mas ele é o que é: um pouco fraco pensando em Qualidade Sonora, e se você o quer melhorar um pouco, um pouquinho que seja, não tem para onde fugir. Já o modelo acima, LP70X, de quase US$300 (preço EUA também), traz um braço melhor, e pelo menos dois possíveis upgrades de agulha que mudam (e melhoram) muito o som do toca-discos. E o LP70X tem um pré de phono embutido dentro, e é um ponto de partida interessante para um sistema bastante simples.

Mas, se eu penso em subir realmente de nível de cápsula e agulha, fazendo upgrades, e ter um toca-discos à altura de um sistema audiófilo, de entrada ou até intermediário, eu teria que ir para um toca-discos da faixa de 600 a US$800 (preço EUA) – como é o Pioneer PLX-1000 ou, melhor escolha nessa faixa de preço: o MoFi StudioDeck (sem cápsula).

Esses dois permitem que você faça dezenas de upgrades de cápsula e agulha, por terem bases sólidas, pratos com velocidade bem estável, e braços com todas as regulagens necessárias para isso. Mas, estes dois precisam pelo menos de um amplificador integrado ou receiver que venham com o pré de phono interno – mas, felizmente, a maioria dos amplificadores e receivers recentes (os melhores) têm esse recurso com qualidade decente.
Mas, para quem tem um amplificador moderno com DAC interno com um par de caixas, de entrada – ou mesmo um par de caixas ativas decentes com entrada digital – e liga nesses um bom streamer de música digital, também de entrada, quando for ver a relação ‘preço/qualidade’ do analógico em comparação com esse digital, vai achar o analógico um pouco caro.
E é preciso lembrar também do custo de compra da mídia analógica, dos LPs, que anda altíssimo! E é bem provável ser esse um dos grandes contribuidores para o recente renovado interesse dos audiófilos (de todas as idades e poderes aquisitivos) pelo CD.
VINIL DE 180 GRAMAS É MELHOR? – A resposta é não, mas pode ser “sim”. Como mídia física, o LP de 140 a 180 gramas é melhor porque, por ser mais grosso e mais pesado, é mais silencioso em sua leitura – mas, para tal, precisa realmente de uma masterização de melhor qualidade para soar o seu melhor.
Ou seja, quem dita a qualidade, será todo o trabalho de masterização, e a qualidade sonora da gravação que for usada para essa master (seja ela analógica ou digital, pois existem excelentes LPs prensados a partir de master digital).
Discos em 180 gramas foram criados por volta de 20 anos atrás por selos, gravadoras pequenas, voltadas para o público audiófilo, com tiragens menores que tinham uma grande preocupação com Qualidade Sonora. Hoje em dia, os 180g novos, das grandes gravadoras, estão longe (notoriamente já) de significar alta qualidade.

VINIL É SÓ NOSTALGIA E HOBBY? – Não mesmo. Existe um grupo enorme de fãs audiófilos do vinil por causa de sua qualidade sonora característica e especial.
Eu não mantenho hoje, mais, nenhum LP que eu não ouça praticamente inteiro, e tem muito poucos títulos que eu ouço tanto no LP quanto no digital. E por uma série de circunstâncias de vida dos últimos anos, eu acabei deixando de lado a mídia CD – tenho alguns (assim como DVDs e Blu-Rays), mas nenhum aparelho para ouvi-los. O que eu tenho feito é, aos poucos, digitalizado os mais interessantes.
Quem lê meus textos sabe que meu foco é plena apreciação musical, e buscar compreender a música – e não promover minha Memória Afetiva Musical.
Quando fiz uma profunda limpeza, triagem, da minha coleção de vinil, eu acabei passando para frente mais de metade dela, sem dó nem piedade – e isso espelha bem o que eu busquei: deixar para trás música que eu não ouça e que não ache interessante, discos mal gravados, e discos cuja versão em digital estava tão boa ou melhor. E assim acabei mantendo, surpreendentemente, uma boa quantidade de LPs de prensagem nacional com Qualidade Sonora considerável!
Existe, claro, um bocado de colecionadores de vinil, que compram mais para ter do que para ouvir, e são cheios de particularidades quanto às suas coleções e como mantê-las e manipulá-las. Para muitos desses, existe um aspecto nostálgico, claro – assim como para os que só compram a música de sua juventude, a música que sempre ouviram. Mas esses o fazem também em CD e via streaming.
Portanto, existem muitos amantes de música – os melômanos que também são audiófilos – que compram apenas títulos muito selecionados em LP, onde tudo é importante: música, gravação, qualidade de prensagem etc.
TODOS OS VINIS SÃO MELHORES QUE CD? – Não, mas não mesmo! Existe um bocado de discos de vinil, novos, antigos e de todas as eras, que são extremamente mal gravados. Muitos são porque a gravação foi muito mal feita e extremamente manipulada – e aí vai ser ruim tanto em analógico quanto em digital.

Existem, também, muitos discos cujas versões em digital foram corretamente remasterizadas, merecendo a preferência pelo digital em vez do LP. E isso pode ter muito a ver com qual o tipo de prensagem do LP – por exemplo: as prensagens nacionais de música internacional, feitas nas décadas de 60, 70 e 80, são quase todas inferiores em qualidade, tanto se comparadas com os mesmos LPs importados, como se comparadas com os CDs.
E, também, o equipamento que for usado para a reprodução, influi tremendamente na qualidade sonora final. E para fazer essa comparação, para o resultado valer a pena, é preciso ter tanto um bom digital quanto um bom analógico.
VINIL É SEMPRE BARULHENTO DEMAIS? – Não. Tenho LPs prensados na década de 60, e que em um bom conjunto de toca-discos e cápsulas – corretamente regulados – não são barulhentos não.
Ou seja, com condições ideais, analógico e digital convivem em um mesmo sistema sem destoar, sem irritar nenhum ouvinte – a não ser aqueles que são intensamente incomodados com todo e qualquer barulhinho.
E, lembrem-se: LPs têm que ser comprados novos ou usados em bom estado, e serem mantidos assim através de limpeza e bom armazenamento. Para aqueles que querem dar banho em seus LPs todos os dias, eu respondo que meus LPs, quando muito, foram lavados um par de vezes na vida. Basta mantê-los bem.
VINIL DEGRADA CADA VEZ QUE É TOCADO? – Sim e não. Vai depender de como o disco é tratado. A ideia que é vendida por muitos, há anos, é de que o vinil é inferior e não vale a pena porque cada vez que passa pela agulha do toca-discos, ele degrada um pouquinho.
Aí eu pergunto: e o que eu faço com o monte de vinis que eu tenho, que meu avô, meu pai e meu tio ouviram em mais de uma dezena de toca-discos e agulhas diferentes, nos últimos 60 anos, que estão tocando perfeitamente bem sem distorções ou perdas óbvias? Será que sou uma exceção?
Primeira coisa a entender é o que estraga um LP.
Na manipulação e armazenamento é fácil de entender: poeira, mofo, gordura do ar e de fumaça de todo tipo (incluindo cigarro, charuto e bacon frito), ‘enfiar os dedão’ no sulco, e deixar o LP deitado (em vez armazená-lo em pé).
Na reprodução em um toca-discos ocorre um desgaste muito pequeno mesmo, se você mantiver o LP limpo. Já a agulha dentro do sulco, arrastando sujeira como se fosse um arado, danifica bastante o sulco. E a coisa piora quando alguma dessas sujeiras resseca, endurece e meio que ‘cristaliza’ dentro do sulco, tornando a faixa impossível de ser reproduzida e podendo até danificar a agulha. Ou, ainda pior, uma dessas sujeiras endurece na ponta de diamante da agulha, e ela passa realmente a ‘retificar’ o interior do sulco, comendo o vinil literalmente.
Da mesma maneira, uma agulha ruim de um toca-discos ruim ou com o peso desregulado, também ‘come’ o sulco por dentro.
E, por fim, braço mal manipulado por todos os convidados bêbados de uma festa, não só riscam o disco, como também causam microfraturas ou mesmo lascas invisíveis à olho nu na ponta de diamante da agulha. O resultado? Essa ponta, que normalmente é algo muito liso e polido, passa a riscar o interior do sulco, literalmente ‘comendo’ o mesmo, também.
A solução: um toca-discos e agulha de qualidade decente, bem regulados, corretamente manipulados, e mantidos limpos (assim como os discos), e você poderá compartilhar discos de três diferentes gerações da sua família – ou mesmo comprar discos nesse estado, usados.
Bom julho a todos!
E, não se esqueçam: quaisquer dúvidas, entrem em contato pelo e-mail: christian@avmag.com.br.
