

Fernando Andrette
fernando@avmag.com.br
Imagine o que passou em minha cabeça quando a Chiave me confirmou o envio da Dynaudio Contour Legacy, para teste.
Uma edição comemorativa com apenas 1000 exemplares que, embora tenha em termos de gabinete sido inspirada na Contour 1.8, de resto não tem mais nada de semelhante com o modelo original.
Coincidentemente, foi a Contour 1.8 minha primeira caixa deste fabricante dinamarquês, que comprei em 1994 quando ainda estava na revista Audio News. E a mantive como minha referência em meu sistema por mais de três anos, até realizar o upgrade para a Contour 2.8, em 1997.
Tive caixas Dynaudio por mais de 20 anos, e testei nos últimos trinta e três anos, mais de 30 modelos deste fabricante.
Ou seja, me sinto inteiramente em casa, quando estou testando um produto deles, seja um de entrada ou um modelo top de linha da série Confidence.
Nenhum outro fabricante de caixas conseguiu chamar tanto minha atenção e ter minha admiração por tão longo período, como revisor e editor.
Todos os nossos discos foram monitorados, mixados e masterizados com caixas Dynaudio, então acho que consigo explicar meu interesse e curiosidade em ouvir a Contour Legacy.
Pois, assim como o modelo em que foi inspirada, a Legacy também usa um gabinete inteiramente feito a mão pelos experientes marceneiros dinamarqueses, como nos modelos iniciais da Dynaudio, e como se trata de uma edição especial comemorativa, os engenheiros da empresa tiveram total liberdade na escolha dos falantes usados, e optaram pelos drivers usados na Evidence Platinum.
Assim, os woofers de 7 polegadas são moldados em uma única peça, com uma bobina móvel ventilada de 75 mm, acionada por um sistema magnético híbrido. Esse sistema consiste em um ímã de neodímio e um ímã de ferrite que, segundo o fabricante, proporciona melhor concentração do campo magnético, maior linearidade e uma dinâmica aprimorada para um melhor controle do cone dos dois woofers.
O tweeter é o consagrado Esotar 3, também utilizado na série top de linha Confidence. Este usa o clássico diafragma de domo de tecido de 28 mm, com o uso atrás dele do Hexis, um difusor interno cuja função é suavizar a resposta de frequência e sua linearidade, em termos de uma resposta mais plana e estendida.
O Esotar 3 também utiliza um imã de neodímio e, atrás do diafragma, há uma câmara aberta revestida com um material de amortecimento que reduz dramaticamente as ressonâncias.
O crossover utilizado na Contour Legacy, utiliza cabos van den Hul, bobinas de núcleo de ar de grande porte, capacitores Mundorf Evo preenchidos com óleo para o tweeter, resistores Mundorf Supreme e capacitores Duelund Cast para os woofers.
Todo o ajuste fino e medições da Legacy foram feitos pelo seu exclusivo sistema de medição Júpiter.
Uma placa de ferro fundido de 8.6 kg é colocada na base do gabinete que, no total, pesa 30 kg.
Outra grande diferença em relação ao modelo original, é que a Legacy possui dois dutos de saída atrás do gabinete. O que exigirá do usuário um cuidado extremo em relação à parede às costas da caixa, para um correto controle das baixas frequências.
E a outra grande diferença da Legacy em relação à Contour 1.8 original, foi a melhoria considerável de sua sensibilidade, agora de 90 dB, muito mais efetiva do que em todos os modelos anteriores da Dynaudio.
Tanto que isso nos permitiu, pela primeira vez na minha vida, usar uma amplificação valvulada de apenas 35 Watts por canal! Algo inadmissível em qualquer outro modelo que tive ou testei deste fabricante.
A impedância continua sendo de 4 ohms, resposta de frequência de 42 Hz a 29 kHz em uma caixa de duas vias e meia, com corte de divisor em 3400 Hz.
A caixa vem em um seguro case de madeira, e será necessário a ajuda de uma segunda pessoa para não correr riscos de danificar ao desembalar e montar a caixa.
A única coisa que não mudou na Legacy em relação a qualquer outro modelo por nós já testados, é a paciência para aguentar o tempo de amaciamento, que continua sendo longo. Pelo menos 150 horas mínimo, antes de sair ‘batendo tambor’ e anunciando aos quatro ventos que tem em casa o último exemplar feito desta série comemorativa (sim meu amigo, ela está esgotada e esse exemplar será o único que veio para o Brasil).
Tanto que este foi o motivo de não ter conseguido mostrar ela no nosso Workshop no final de abril último. Pois no dia da abertura do Workshop, ela estava apenas com menos de 20 horas de amaciamento. O que me fez abortar sua apresentação.
Foi uma pena, pois depois das duzentas horas de amaciamento ela está simplesmente um desbunde!
Para o teste utilizamos os seguintes integrados: Arcam SA45 (leia teste 3 nesta edição), Dan D’Agostino Pendulum (teste na edição de agosto próximo), Norma Evo IPA-140 (clique aqui) e o Alluxity Int One MkII (teste na edição de setembro próximo). Além do nosso Sistema de Referência Nagra (powers HD, pré Classic, TUBE DAC e Transporte). E, no final do teste, ouvimos ligado ao Air Tight ATM-1E (teste edição de agosto próximo). O cabo de caixa foi o Dynamique Apex (clique aqui), e a fonte analógica foi o toca-discos Zavfino ZV11X (clique aqui), cápsula Dynavector DRT XV-1T (clique aqui), e pré de phono Soulnote E-2 (clique aqui).
Todas as qualidades que sempre admirei nas caixas Dynaudio, estão também presentes na Contour Legacy, como a capacidade de recriar o acontecimento musical sem impor características para ‘dourar’ a sonoridade – quem busca essa característica sonora, irá se decepcionar. Agora se você sempre quis uma assinatura sônica mais próxima dos monitores de estúdios, mas sem aquela secura ou dureza presente em inúmeros monitores profissionais, você se sentirá reconfortado com sua apresentação.
Posso falar com conhecimento de causa (pelas duas décadas de convivência com inúmeros modelos), que este é um fabricante que trilhou um caminho e nunca se desviou dele, por nenhuma tendência ou modismo.
Mas é óbvio que houve melhorias no nível de performance, e na busca por uma fidelidade ainda maior. E a Contour Legacy é um excelente exemplo desta busca incessante por melhorias sem desvios dos conceitos alcançados.
Ela, em muitos aspectos, me lembrou a assinatura sônica da Temptation (meu último exemplar deste fabricante), porém com uma maior compatibilidade com distintos powers.
E, claro, pelo seu tamanho muito menos impetuoso que a Temptation, mais adaptável a diferentes ambientes.
Sua sensibilidade para mim foi a melhor surpresa, e seu grande diferencial, pois isso permitiu o uso desta legião de amplificadores que tínhamos à mão, e com resultados surpreendentes e muito animadores.
A vantagem de poder utilizar integrados com assinaturas tão distintas, só reforçou a principal característica da assinatura sônica deste fabricante – sua busca incessante por maior neutralidade, sempre. Ainda que, como a Temptation, esteja alí com um leve olhar para o eufônico, sem, no entanto, cravar o pé nesse sítio. Deixando para a eletrônica realizar esse papel.
O que estou querendo dizer?
Que quando usamos o ATM-1E da Air Tight, se não tivéssemos mais nenhum outro amplificador à mão, poderíamos cair no erro e dizer que a Contour Legacy seria a primeira caixa da história da Dynaudio a soar eufônica!
E o oposto também: se tivéssemos naquele momento apenas o integrado do Dan D’Agostino, facilmente poderíamos cometer o erro de dizer que a Legacy flertou explicitamente com maior transparência.
Acho que isso dá um sentido exato do quanto a Contour Legacy mantém o conceito Dynaudio de Neutralidade ainda como seu principal trunfo como fabricante de caixas hi-end.
Agora, se não for dado o devido tempo de amaciamento, as conclusões podem ser totalmente tortas. Pois ela, nas primeiras 100 horas, soa seca na região médio-grave, e as altas com muita proeminência.
Levando a deixar inúmeras gravações inaudíveis!
Com 150 horas, as coisas em termos de equilíbrio tonal começam a entrar nos eixos. E com as 200 horas, tudo se encaixa.
Li que alguns fãs da marca, acharam que pela escolha dos engenheiros em melhorar a sensibilidade, os graves ficaram menos ‘impactantes’, e que eles gostam mais dos modelos com menor sensibilidade, e maior peso e energia nos graves.
Eu sinceramente não concordo. Acho que a melhora da sensibilidade foi um acerto enorme. E eu estenderia essa escolha para todos os novos modelos, daqui para a frente.
Pois um maior grau de compatibilidade com diferentes topologias de amplificadores e potências, não só dará maior visibilidade à marca, como também pode atrair novos consumidores que desejam montar um setup mais neutro.
Eu não senti em nossa sala falta de graves, mesmo em gravações de órgão de tubo. A energia, o corpo e deslocamento de ar estiveram sempre presentes em todos os estilos musicais.
Sua região média irá reproduzir fielmente o que a eletrônica é capaz de gerar e enviar para a caixa. E os agudos são refinados, naturais, com zero de agressividade ou brilho artificial.
Outra excelente qualidade da Contour Legacy é sua imagem 3D do acontecimento musical, com excelente profundidade, altura e largura. Ouvi inúmeras gravações de música clássica, em que os contrabaixos estavam a mais de 1 metro para fora do canal direito, e o naipe de violinos para fora do canal esquerdo.
Planos e mais planos da orquestra, impecavelmente focados, recortados e com a profundidade atingida pelo engenheiro de gravação. E uma altura de palco surpreendente para uma coluna com um metro de altura.
Seu agudo tem um decaimento tão suave, que qualquer ambiência foi perfeitamente reproduzida, até mesmo com seus rebatimentos nas paredes da sala de gravação.
As texturas, quando reproduzidas no ATM-1E da Air Tight e no Norma, eram de um grau de refinamento impactante, graças à naturalidade e ao realismo.
Eu, nos anos todos que tive modelos Dynaudio, me ressentia de não poder ouvir texturas (um quesito a mim muito essencial), com maior calor e suavidade, justamente pelo seu grau de incompatibilidade com amplificadores valvulados ou transistorizados classe A de baixa potência.
Pois essa frustração foi superada, ao poder escutar quartetos de cordas com esses dois amplificadores! Quando ouvimos em uma caixa mais neutra, com texturas muito naturais, complexas e refinadas, o efeito em termos de prazer auditivo é intenso.
Pois nosso cérebro se rende sem esforço ao que está ouvindo.
É como ser conduzido a sensações desconhecidas, pois não estávamos esperando por aquela surpresa tão agradável, entende?
Sabe quando você se convence e aceita, que algo que você desejava não irá nunca ocorrer?
E aí ocorre?
Esse foi o efeito em ouvir texturas em um amplificador valvulado – em que este quesito é simplesmente uma referência absoluta.
Fiz três páginas de anotações em meu diário pessoal, pois sei que não repetirei este momento, pois essa caixa já está indo embora (infelizmente).
Os transientes nunca foram obstáculo para nenhum modelo Dynaudio. Não que me lembre, ou tenha testado. A Contour Legacy é um primor na reprodução deste quesito, e nada irá soar flácido ou letárgico. Para amantes de ritmo, tempo e andamento, eis uma caixa que pode lhe mostrar como as gravações neste quesito devem soar.
A microdinâmica é surpreendente, e tudo que ouvimos foi reproduzido com enorme autoridade e folga. Folga de caixas muito maiores e mais caras.
Eita coluna ousada e destemida! Fiquei receoso de ouvir os tiros de canhão da Abertura 1812 de Tchaikovsky, temendo pelos dois pequenos woofers. E ligada ao Nagra HD, a Contour Legacy reproduziu com tenacidade o exemplo.
E sua apresentação de microdinâmica, graças a sua transparência, é pura ‘pêra doce’! O mesmo posso afirmar na reprodução do corpo dos instrumentos.
Feche os olhos e irá duvidar que uma caixa de tamanho tão modesto reproduz o corpo de um grand-piano com tanto preciosismo, ou um contrabaixo ou um órgão de tubo!
Com essa coerência em todos os quesitos da Metodologia, é quase que redundante falar sobre a materialização física do acontecimento musical (organicidade), e ela irá te surpreender, pois você irá ‘ver’ literalmente o que está ouvindo à sua frente, todos os dias, com suas melhores gravações.
Sem esforço, sem reza ou mágica!
CONCLUSÃO
A Dynaudio em breve completará meio século de vida, e se conseguiu lançar um modelo comemorativo tão impactante antes dessa data tão expressiva, o que virá então para marcar seus 50 anos?
Se a Contour Legacy foi apenas um ‘gostinho’ do que está por vir, devemos nos preparar, pois a equipe de desenvolvimento da Dynaudio está muito inspirada.
Os atributos e soluções apresentados com esse modelo especial, nos permitem vislumbrar que a sequência dessa trajetória será, pelo visto, muito consistente e impactante.
Fico feliz de poder ter escutado esse modelo, e ter uma ideia clara do que a Dynaudio poderá daqui para a frente oferecer ao mercado.
Se você sempre sonhou em ter um modelo exclusivo, e que ninguém mais aqui no Brasil o terá, essa é uma chance única.
Se eu tivesse condições neste momento, de escrever aqui que essa caixa não voltaria para a Chiave, não tenha dúvida que eu o faria!
Pois suas qualidades são impressionantes!
PONTOS POSITIVOS
Uma série comemorativa de altíssima performance.
PONTOS NEGATIVOS
Ser o único exemplar no Brasil.
ESPECIFICAÇÕES
| Sensibilidade (dB @ 2.83V/1m) | 90dB |
| Potência admissível de pico | 300W |
| Impedância | 4 ohms |
| Gabinete | Bass reflex com duto traseiro |
| Tipo de Crossover | 2.5-vias |
| Frequência de Crossover | 3400 Hz |
| Topologia de Crossover | 1a/2a ordem |
| Tweeter | 28 mm Esotar 3 |
| Woofer | 2x de 7 polegadas com cone de MSP |
| Dimensões (L x A x P) | 208 x 995 x 345 mm |
| Peso | 32.5 kg |
| CAIXAS ACÚSTICAS DYNAUDIO CONTOUR LEGACY | ||||
|---|---|---|---|---|
| Equilíbrio Tonal | 13,0 | |||
| Soundstage | 12,0 | |||
| Textura | 13,0 | |||
| Transientes | 13,0 | |||
| Dinâmica | 12,0 | |||
| Corpo Harmônico | 13,0 | |||
| Organicidade | 13,0 | |||
| Musicalidade | 13,0 | |||
| Total | 102,0 | |||
| VOCAL | ||||||||||
| ROCK, POP | ||||||||||
| JAZZ, BLUES | ||||||||||
| MÚSICA DE CÂMARA | ||||||||||
| SINFÔNICA |


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