Espaço Aberto: APRECIAÇÃO MUSICAL LIMITADA NA MEMÓRIA AFETIVA

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Christian Pruks
christian@avmag.com.br

Como eu digo sempre: cada um ouve em seu sistema o que gosta de ouvir, desde concerto de ‘harpa paraguaya’ até uma seleção dos melhores jingles de rádio para marcas de óleo de soja. O que quiser, e o que curtir.

Minha única reclamação constante é: não façam nem avaliações de equipamentos e acessórios, nem ajustes de sistema, nem demonstrações para quem quer que seja, usando discos mal gravados – pois aí estarão subutilizando seus sistemas, chegando a conclusões errôneas etc.

E, minha única sugestão constante: aprendam, se informem, conheçam, entendam, cada vez mais obras musicais – em todas as mídias – obras novas, velhas, intermediárias. Expandam seus horizontes musicais além da Memória Afetiva!

E, falando em Memória Afetiva Musical, recentemente lembrei de um ‘causo’.

Outro dia, ao ouvir um pouco das minhas próprias memórias afetivas, retornei a um nicho de muitos anos atrás, onde ouvia muito do hard-rock e heavy-metal mais ‘originais’, das décadas de 70 e 80, criando uma Playlist de ‘super-faixas’ do gênero – que são ‘super’, aliás, apenas na qualidade instrumental, de arranjo e de composição, não em qualidade de gravação, infelizmente.

Entre elas, estão os 8 minutos da obra-prima Stargazer, da banda inglesa Rainbow, de 1976, com o guitarrista Ritchie Blackmore do Deep Purple, a pegada precisa do baterista Cozy Powell (Jeff Beck, Gary Moore, Brian May, Whitesnake, Emerson Lake & Powell, Black Sabbath), o baixista Jimmy Bain e o tecladista Tony Carey.

Acontece que, se não fosse suficiente um supergrupo de hard/heavy com esses caras acima, o Rainbow ainda contava com um dos gigantes dos vocais do gênero: Ronnie James Dio – cuja fama maior vem de ter sido vocalista do Black Sabbath. E é difícil para muitos dizerem qual vocalista do Sabbath foi melhor, se a precisão quase operística de Dio, ou a personalidade sem fim de Ozzy Osbourne. Eu gosto dos dois, para falar a verdade.

O melhor desempenho vocal da vida de Dio – na minha opinião – é o épico Stargazer, nas mãos de todos esses instrumentistas, além de trazer as cordas e metais da Filarmônica de Munique, na sua parte final. A letra, de Dio, conta a história de um poderoso mago cuja tentativa de voar, construindo uma torre mística para as estrelas, leva à escravização de um vasto número de pessoas. Parece mais uma letra de rock progressivo do que de heavy metal.

Não conhecer Stargazer é como ser fanático por chocolate e nunca ter mordido uma barra de chocolate suíço. É uma experiência e tanto!

Uma vez, poucos anos atrás, fui convidado a um churrasco, de uma turma de roqueiros. Heavy e hard-rock era o que rolava no microsystem, no mais alto volume, e quase que somente Deep Purple, Black Sabbath, solos do Ozzy e solos do Dio. E quando começou a tocar Dio, o pessoal foi à loucura, cantando junto à plenos pulmões e pulando para todo lado.

Aí falei: “Agora só falta tocar Stargazer!”

E se eu tivesse dito isso em Grego Arcaico, talvez tivesse visto menos ‘pontos de interrogação’ nos rostos dos presentes. “Vocês não conhecem Stargazer, do Rainbow? Obra-prima do Ronnie James Dio nos vocais?!?”

A partir da negativa de todos – que inclusive nem conheciam Rainbow – pus a faixa para tocar, exultante.

E o efeito foi completamente pífio! Zero de interesse. Frieza total.

Perguntei como não podiam gostar, já que era estupidamente bem tocada, no gênero que eles adoravam, e com o vocalista que eles adoravam. E a resposta eu tive que ler nas entrelinhas, de uma longa conversa:

A faixa não mexia com eles, porque não fazia parte da juventude deles! E eles não estavam nem um pouco interessados em aprender, em conhecer!

Queriam ficar pulando e berrando suas faixas preferidas da sua juventude. E não pode haver exemplo mais claro de terem parado – e ficado travados – em sua apreciação musical, naquilo que é sua Memória Afetiva.

Nada de ‘errado’ nisso. Eu mesmo tenho a minha Memória Afetiva Musical, mas eu me dedico também a conhecer música nova interessante, a me expandir dentro dos vários gêneros que aprecio. Se eu gosto de literatura, quero ler mais títulos e novos livros dentro dos gêneros que mais gosto. Se eu gosto de comida, quero comer novos pratos, novas versões, conhecer novas culinárias, dentro das diretrizes do meu gosto pessoal.

Mas, é fato que, por uma série de motivos – que podem incluir a diminuição da plasticidade de parte do cérebro (associada à capacidade de aprendizado e de mudanças), assim como da acuidade auditiva – várias pessoas depois dos 30 anos de idade, diminuem a exploração das formas, gêneros, gravações e grupos musicais etc.

Seja qual for o fator determinante – se não for uma combinação desses, inclusive, com influências culturais – muita gente mantém música em suas vidas por pura Nostalgia, que nada mais é que a famosa Memória Afetiva.

Até porque, a música é uma tremenda provocadora de emoções!

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