

Christian Pruks
christian@avmag.com.br
Uma nova seção mensal – trazendo disparates ditos sobre áudio e audiofilia!
patacoada (substantivo feminino)
dito ou ação ilógica; disparate, tolice.
gracejo desabusado.
Em cartaz, este mês, os seguintes ‘gracejos desabusados’:
DEFINIR EQUIPAMENTOS COMO BONS PARA TESTES PORQUE TÊM BOA RESPOSTA DE FREQUÊNCIA

O objetivismo na audiofilia tem um efeito colateral nada engraçado. Uma coisa são os luminares do mercado que defendem com unhas e dentes ver apenas o lado de laboratório e de especificações de um equipamento de áudio – e outra coisa é o consumidor começar a achar que essa atitude é que é a norteadora.
Qual a finalidade de um aparelho de som de alta qualidade sonora? ‘Ouvir’ música com alta qualidade sonora, ou seja, uma atividade que vai além de simplesmente curtir música, querendo que essa soe extraordinariamente. Por definição! Vejam bem: “ouvir”, e “soe extraordinariamente”. “Soe”!
Como é que se sabe como algo soa, sem ouvir? É como dizer se uma comida é gostosa lendo a lista de ingredientes e assistindo uma receita ser preparada! Esse é o Objetivista Culinário!
Aí aparece alguém em algum grupo de discussão audiófilo, dizer que o fone de ouvido dele de 30 dólares e o amplificador de 200 dólares (com uns 30 anos de idade) são bons para fazer avaliações sérias simplesmente porque a resposta de frequência de ambos supre a frequência da audição humana! É o mesmo que definir um hambúrguer como sendo de Qualidade apenas notando o fato dele ser feito de carne.
É a mesma pessoa que diz que as massas do restaurante ABC são boas porque “usam farinha, tomate, água e temperos”…
Alguns dos Profetas Objetivistas são ‘engraçados’ ao ponto de dizerem que as medições e especificações são o que deveria guiar todo mundo não só na escolha e compra, mas também no projeto dos equipamentos – porque “é ciência”. Isso mesmo quando os mais consagrados projetistas do mercado já cansaram de dizer que medições são o início, a base do processo, mas que o acerto final dos aparelhos é sempre feito com testes auditivos.
Isso deve dar um nó na cabeça daqueles Objetivistas que afirmam só serem válidos testes auditivos se forem ‘testes cegos’ – já que me parece impossível fazer ‘teste cego’ no processo de projetar, desenvolver e fazer o ajuste fino de um equipamento.
ACREDITAM QUE HI-RES NÃO É ÚTIL PORQUE O OUVIDO TEM SUA DEFINIÇÃO LIMITADA EM 16/44.1

Mais uma ideia disseminada a partir da fixação do Objetivismo com a resposta de frequência e seus gráficos. Aí vem mais um ‘cientista’ para dizer que a resposta de frequência do 16-bit/44.1kHz (definição de CD) é o suficiente para o ser humano, porque ele não ouve acima de 20kHz, e o CD responde até 22.05kHz. Ir além disso, é mostrar frequências que seu ouvido não irá ouvir.
Acontece que, por exemplo, o principal fator da Qualidade Sonora é a qualidade de captação (microfonação) e armazenamento dessa captação (o gravador usado) – e, claro, essa gravação ter sido pouco manipulada e modificada, mantendo essa qualidade. Dessa maneira, seguindo esse preceito, eu tenho arquivos MP3 que tocam melhor do que vários arquivos em Hi-Res.
Ou seja, pensar na resposta de frequência é pensar de maneira Quantitativa, em não pensar no Qualitativo, que é mais alterado e definido por outras coisas do que pela resposta de frequência.
Pensar “Quantitativo”, que é o que a maioria ainda faz, é pensar em “mais grave, menos grave”, em vez de “melhor grave, pior grave”.
Outro aspecto interessante para este tópico é que o Hi-Res, por exemplo, traz uma faixa dinâmica maior que a do CD – e isso o ‘cientista’ lá de cima resolveu ignorar, claro, mesmo sendo audível.
Isso tudo, claro, falando de maneira bem generalista.
EQUIPAMENTO QUE SOA FLAT ‘HOMOGENIZA’ O SOM DE TODAS A CAIXAS

Essa é interessante, pois é exatamente o reverso! E isso é claro!
O equipamento que menos alterar a resposta de frequência e timbre da gravação – leia-se: aquele que for mais flat, que tiver a resposta de frequência mais plana, com menos coloração em qualquer uma da grande variedade de frequências – obviamente entregará para as caixas o conteúdo mais correto possível, mais puro como veio na gravação.
Isso permite, obviamente, que cada caixa mostre exatamente a que veio, sua assinatura sônica, capacidades e limitações.
Mas, até aí, o mundo está cheio de inversões e torções de valores – infelizmente “Se você quiser três opiniões distintas, pergunte para dois audiófilos!” – frase jocosa do ano.
E que agosto nos traga ainda mais Patacoadas Divertidas!